29 agosto 2007

Novelas, um mal desnecessário

Enredos e tramas previsíveis? Muito mais previsíveis são os danos causados por essa praga, que há décadas vem acorrentando espectadores aos pés das televisões, ditando moda e distorcendo valores.

Mais cedo ou mais tarde virá uma nova novela das oito. A equipe do Cenas-do-Cotidiano, em um incrível furo de reportagem, conseguiu uma entrevista exclusiva com o autor, que por motivos ainda desconhecidos, entregou de bandeja vários detalhes exclusivos dessa nova trama, que certamente vai prender você e seus familiares na poltrona por meses a fio...

Na base do enredo, haverá uma família rica, poderosa e influente, já que isso não pode faltar. Ocasionalmente, serão também retratadas pessoas “comuns”, embora os diretores conheçam muito bem a preferência dos telespectadores por cenários pomposos, ao invés de oficinas mecânicas e seus funcionários sujos de tinta guache. O patriarca da família rica será um poderoso executivo de uma mega empresa qualquer, cheia de dólares nas ilhas Cayman. O ramo de atuação da empresa não ficará claro para o público, mas seja lá qual for, ela será comandada com braço de ferro pelo poderoso figurão, sempre impecavelmente trajado. Todas as transações retratadas serão realizadas em dólar, já que nesses ambientes não haverá espaço para a moeda tupiniquim.

O figurão logicamente terá uma filha muito bonita, que invariavelmente vai se apaixonar por algum rapaz “humilde”, muito fofo, com cara de teletubie. E como isso vai acontecer? Bom partido evidente, a mocinha já estará prometida em casamento ao filho de outro aristocrata qualquer, cuja identidade não virá muito ao caso. O sujeito, típico mauricinho boa pinta, será malvado, muito malvado. Apesar de já defecar dinheiro, vislumbrará o casamento como um meio de pôr as mãos na bufunfa do velho sogro. A maneira indiferente e insensível do filhote de burguês tratar a mocinha, fará com que ela, já cabisbaixa, passe a prestar atenção ao menino bonzinho com cara de teletubie. O moço vai passar 358 capítulos ciscando o território, sendo vítima de inúmeras tramóias arquitetadas pela mente malévola do namorado oficial, até que, no antepenúltimo capítulo, vai acabar tirando uma casquinha da beldade, chutando de vez bunda do ex-futuro esposo para escanteio.

Em outro canto da vizinhança, um casal vai quebrar o pau regularmente em intervalos pré-definidos pela preferência nacional. Lá pelo vigésimo quinto capítulo irão se divorciar. A mãe vai acabar tendo um caso com o primo da cunhada, o mesmo que acompanhava seu marido nas inúmeras baladas que ele freqüentava às escondidas. As escapadas do marido, em algum ponto obscuro de um passado longínquo, geraram um filho bastardo, que cresceu acreditando ser filhote de chocadeira, resultado de um acidente de laboratório durante as pesquisas do Projeto Genoma. O filho bastardo descobre que não é apenas um filho da mãe, mas que também tem um pai afinal de contas. Vai descobrir também que sua namoradinha de infância, com quem dava altos amassos no pátio da escola é, na verdade, sua irmã.

Nesse ponto, a trama dará uma reviravolta e se encaminhará para seu desfecho. A menina rica se casará com o cinderelo, em uma cerimônia coletiva, junto com mais dois terços do elenco, todos sob regime de separação de bens. O burguesinho traído passará a lavar pratos em um restaurante chinês na Baixada Fluminense, após a fortuna do seu pai evaporar com uma súbita queda da bolsa de Tóquio. O ex-filho de chocadeira, diante do choque causado pela revelação de seu passado negro, muda-se para as ilhas Galápagos, onde funda uma nova seita religiosa, passando a pregar a libertação dos dragões de komodo e das tartarugas gigantes.

E assim terminará mais uma linda história de amor.

O ministério da saúde adverte:
1- Assistir novelas causa sérios danos à integridade mental. Aprecie com moderação, ou de preferência, abstenha-se.
2- Leve a sério o aviso acima, não se trata de ironia ou piada.
3- Não caia na papagaiada de que novela retrata a realidade. As pessoas interpretam o que assistem como sendo realidade, e passam a considerá-la como tal, e não o contrário.
4- Moleques inconsequentes criados por pais bananas não chegam a lugar algum. Em algum ponto de suas vidas serão removidos do tacho pela escumadeira que recolhe a escória.6-Famílias desestruturadas e desmoralizadas geram jovens acéfalos que irão surrar mendigos e empregadas domésticas em pontos de ônibus. Depois ninguém vai entender como universitários de boa família foram capazes de tamanha barbaridade.

25 agosto 2007

Novelas, um mal desnecessário.

Enredos e tramas previsíveis? Muito mais previsíveis são os danos causados por essa praga, que há décadas vem acorrentando espectadores aos pés das televisões, ditando moda e distorcendo valores.

Vem aí uma nova novela das oito. A equipe do Cenas-do-Cotidiano, em um incrível furo de reportagem, conseguiu uma entrevista exclusiva com o autor, que por motivos ainda desconhecidos, entregou de bandeja vários detalhes exclusivos dessa nova trama, que certamente vai prender você e seus familiares na poltrona por meses a fio...

Na base do enredo, haverá uma família rica, poderosa e influente, já que isso não pode faltar. Ocasionalmente, serão também retratadas pessoas “comuns”, embora os diretores conheçam muito bem a preferência dos telespectadores por cenários pomposos, ao invés de oficinas mecânicas e seus funcionários sujos de tinta guache. O patriarca da família rica será um poderoso executivo de uma mega empresa qualquer, cheia de dólares nas ilhas Cayman. O ramo de atuação da empresa não ficará claro para o público, mas seja lá qual for, ela será comandada com braço de ferro pelo poderoso figurão, sempre impecavelmente trajado. Todas as transações retratadas serão realizadas em dólar, já que nesses ambientes não haverá espaço para a moeda tupiniquim.

O figurão logicamente terá uma filha muito bonita, que invariavelmente vai se apaixonar por algum rapaz “humilde”, muito fofo, com cara de teletubie. E como isso vai acontecer? Bom partido evidente, a mocinha já estará prometida em casamento ao filho de outro aristocrata qualquer, cuja identidade não virá muito ao caso. O sujeito, típico mauricinho boa pinta, será malvado, muito malvado. Apesar de já defecar dinheiro, vislumbrará o casamento como um meio de pôr as mãos na bufunfa do velho sogro. A maneira indiferente e insensível do filhote de burguês tratar a mocinha, fará com que ela, já cabisbaixa, passe a prestar atenção ao menino bonzinho com cara de teletubie. O moço vai passar 358 capítulos ciscando o território, sendo vítima de inúmeras tramóias arquitetadas pela mente malévola do namorado oficial, até que, no antepenúltimo capítulo, vai acabar tirando uma casquinha da beldade, chutando de vez bunda do ex-futuro esposo para escanteio.

Em outro canto da vizinhança, um casal vai quebrar o pau regularmente em intervalos pré-definidos pela preferência nacional. Lá pelo vigésimo quinto capítulo irão se divorciar. A mãe vai acabar tendo um caso com o primo da cunhada, o mesmo que acompanhava seu marido nas inúmeras baladas que ele freqüentava às escondidas. As escapadas do marido, em algum ponto obscuro de um passado longínquo, geraram um filho bastardo, que cresceu acreditando ser filhote de chocadeira, resultado de um acidente de laboratório durante as pesquisas do Projeto Genoma. O filho bastardo descobre que não é apenas um filho da mãe, mas que também tem um pai afinal de contas. Vai descobrir também que sua namoradinha de infância, com quem dava altos amassos no pátio da escola é, na verdade, sua irmã.

Nesse ponto, a trama dará uma reviravolta e se encaminhará para seu desfecho. A menina rica se casará com o cinderelo, em uma cerimônia coletiva, junto com mais dois terços do elenco, todos sob regime de separação de bens. O burguesinho traído passará a lavar pratos em um restaurante chinês na Baixada Fluminense, após a fortuna do seu pai evaporar com uma súbita queda da bolsa de Tóquio. O ex-filho de chocadeira, diante do choque causado pela revelação de seu passado negro, muda-se para as ilhas Galápagos, onde funda uma nova seita religiosa, passando a pregar a libertação dos dragões de komodo e das tartarugas gigantes.

E assim terminará mais uma linda história de amor.

O ministério da saúde adverte:

1- Assistir novelas causa sérios danos à integridade mental. Aprecie com moderação, ou de preferência, abstenha-se.

2- Leve a sério o aviso acima, não se trata de ironia ou piada.

3- Não caia na papagaiada de que novela retrata a realidade. As pessoas interpretam o que assistem como sendo realidade, e passam a considerá-la como tal, e não o contrário.

4- Traição não se justifica. “As cenas são formadas de modo que o telespectador seja levado a até desejar que o adultério se consuma, por causa da "maldade" do cônjuge traído” (Felipe Aquino).

5- Moleques inconsequentes criados por pais bananas não chegam a lugar algum. Em algum ponto de suas vidas serão removidos do tacho pela escumadeira que recolhe a escória.

6-Famílias desestruturadas e desmoralizadas geram jovens acéfalos que irão surrar mendigos e empregadas domésticas em pontos de ônibus. Depois ninguém vai entender como universitários de boa família foram capazes de tamanha barbaridade.

E aos responsáveis pela disseminação desse lixo: Estejam cientes do mal que estão promovendo.

18 agosto 2007

Rede Globo treme... e o bom senso também.

Você provavelmente já deve ter recebido, em algum momento de sua vida, aquele email repassado de mão em mão, falando mal da Globo e de como ela se aproveita das criancinhas e da boa vontade daqueles que contribuem com o Criança Esperança. Em quem depositamos nossos créditos? Ou melhor, no que baseamos nossas conclusões?

Circula na internet um email desencorajando aqueles que porventura doaram ou pensam em doar algum dinheiro ao programa “Criança Esperança”, da Rede Globo de televisão. Sinceramente, não entendi o objetivo deste email. Seria alguma espécie de campanha contra as doações? Descobriram (ou provavelmente inventaram) que a Rede Globo se beneficia do programa através de abatimentos em seu imposto de renda, e por conta disso, criou-se o lema: Ninguém mais doa um centavo! Ninguém dá à Globo o gostinho do desconto no imposto! Que se rale a Unesco e as instituições atendidas pelas doações, o importante é que a Globo não deduza!

Se o problema todo é o beneficiário da dedução do imposto de renda, ou se estamos simplesmente descontentes pelo o fato da Globo pagar menos impostos, podemos resolver o impasse de outra forma. Peguemos, por exemplo, 7, 15 ou 30 reais e doemos diretamente às instituições apoiadas pelo programa, ou para qualquer outra de nossa preferência. Fazendo isso, será o nosso próprio imposto que sofrerá o abatimento, viu como é fácil? E por acaso alguém vai fazer isso? Claro que não! Somos eficientes em reclamar, mas a eficiência acaba aí. Se por um lado somos incapazes de destinar um mísero real para ajudar terceiros, por outro, somos categóricos e unânimes em condenar “O MONSTRO CAPITALISTA E SUAS PRÁTICAS IMUNDAS”. Ainda que tudo seja verdade e que estejam mesmo arranjando para si alguma conveniência, ao menos a iniciativa está sendo tomada e o recurso levantado, coisa concreta, palpável, e mais importante, pra já. Vão deduzir? Pois que deduzam então!

Temos que convir, no entanto, que aturar aqueles shows medíocres com canções dubladas e “artistas” que posam de bons moços e proferem clichês manjados e decorados às vésperas, constitui desafio quase tão grande quanto erradicar a pobreza do Brasil. Apesar disso, que bom seria se cada emissora arranjasse um jeito parecido de abater alguns milhões de seus impostos. Além do mais, sempre temos a opção de desligar a TV, prática altamente recomendável nos dias de hoje.

Esse é o nosso mal. Sempre procuramos defeitos nas idéias dos outros, enquanto nós mesmos somos incapazes de pensar em coisa melhor. Por coisa melhor, entendam-se ações concretas com resultados mensuráveis e não devaneios ideológicos e inatingíveis.

O email é categórico em denunciar uma ação, mas por acaso mostra alguma proposta ou idéia alternativa? Não, simplesmente prega que não doemos mais coisa alguma. A Globo que pague seus impostos e as criancinhas desnutridas que se explodam, porque nós vamos ficar aqui sentados no sofá, proferindo os mesmos discursinhos enlatados de sempre, reclamando da Globo, do governo neoliberal, das monoculturas, dos burgueses, dos latifundiários, do Bush e do papai Noel, mas não vamos mexer uma palha para fazer a coisa ACONTECER, seja deste modo ou de qualquer outro.

Para quem estiver interessado, aí está o link do referido email:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/08/390104.shtml

E aqui, a resposta da Globo:
http://criancaesperanca.globo.com/CEsperanca/upload/esclare.htm

11 agosto 2007

Despedida...


Admirando o vazio do precipício tomado pelo nevoeiro que, simultaneamente, esconde seu fundo e carrega o meu pensamento para algumas centenas de quilômetros dali.

Amanhã, fecharei atrás de mim um portão e o caminho não terá mais volta. Seguirei trilhando, traçando meu próprio destino.

Olho o horizonte e me deparo com o pôr-do-sol, cujos raios atingem as nuvens, tornando-as ruborizadas como longos cabelos ruivos ao sabor do vento. Ao que me despeço de tão belo cenário, me flagro a contemplar o que, aos meus olhos, surge como um sorriso, a me desejar boa viagem.

A bela nuvem avermelhada se vai, deixando em seu rastro o céu semeado para o nascer de um novo dia, tão logo a escuridão da noite seja novamente vencida pelo astro rei.
Atualização: aos finais de semana
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