27 dezembro 2006

Um algo a mais no currículo


Quase todas as classes costumam ter seus respectivos eventos, onde são tratados os assuntos de interesse comum da “catiguria”, sejam palestras, seminários, simpósios, workshops ou encontros em geral. Para um estudante universitário não é diferente. Existem uma série de eventos de ordem acadêmica ou nem tanto, onde são abundantes os espaços de confraternização e troca de idéias, dentro ou fora do campus. Sejam eles elaboradas festas em casas noturnas ou simples rodas de violão, voz e chimarrão (e é mais prudente que a lista de ingredientes não continue), sempre encontramos gente como a gente, que sabe que na verdade deveria estar em casa estudando para aquela prova do dia seguinte...

Sem sair do contexto acadêmico, vamos citar as Casas de Estudantes e seus moradores, time deste que vos escreve. Há quase três anos morando em um espaço desses, tive a oportunidade – e não estaria exagerando se dissesse privilégio – de participar do II Encontro Regional de Casas de Estudantes - ERECE. Fora a responsabilidade de representar nossa casa juntamente com outras cinco colegas, estivemos, durante três dias, dividindo um espaço no campus da Universidade de Rio Grande com mais duzentos estudantes oriundos de diversas universidades do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

Umas das coisas que me chamaram atenção é a incrível heterogeneidade de perfis dos alunos do ensino superior. Se julgasse apenas pelos participantes do Erece, a disparidade não seria tão grande assim. Só que, quando se incluem na comparação algumas peças raras que freqüentam as universidade particulares, aí a coisa muda de figura e os contrastes são no mínimo curiosos. Colegas, digo a vocês que esse assunto rende, portanto retornaremos a ele em um futuro próximo.

Voltando à Rio Grande, vamos analisar o cenário do Erece. As instalações, gentilmente cedidas pela organização do evento, consistiam em um espaço ao ar livre para colocação de barracas. Em um ato de extrema generosidade, foi disponibilizado também o chão do complexo desportivo e os bancos de madeira dos vestiários para colocação de colchonetes ou sacos de dormir.

Um dos pontos altos do evento, em minha opinião, foi a apresentação de cada uma das casas participantes, onde as características, particularidades e problemas de cada uma eram comentadas por seus representantes. Especial ênfase foi dada ao último item com a exposição de uma gama realmente grande de problemas dos mais variados possíveis. E nada de fuxicos, picuinhas e demais problemas previsíveis e sacais. Nesse quesito, as Casas de Estudantes costumam nos brindar com verdadeiras “anedotas” daquelas em que se ri para não chorar.

A verdade é que pouca gente realmente sabe o que é uma Casa de Estudante e o que é fazer parte de uma. O diferencial está justamente aí: não se limitar a morar, mas sim, ser parte integrante.

Frequentemente associadas às repúblicas ou meramente a um espaço onde um bando de jovens arruaceiros divide um teto e um chão engordurado, as Casas de Estudantes têm lutado para reverter, perante a sociedade, esta imagem de antro de libertinagem. Fruto da luta de estudantes universitários sem condições de arcar com despesas de aluguéis de imóveis, as Casas de Estudantes possuem uma estrutura organizacional bem peculiar. Seus moradores têm sob sua responsabilidade, a administração e a preservação de um bem que deve permanecer íntegro para as próximas gerações de moradores. Uma coisa porém, têm sido unânime. O aprendizado e o crescimento cultural que um ambiente deste proporciona a seus moradores é notável. Não apenas se aprende a conviver e lidar com pessoas, esta arte que durante milênios o ser humano vem tentando aperfeiçoar, mas também se cria, de forma bastante sólida, o hábito de buscar soluções que venham a beneficiar todo o grupo e não apenas a si próprio.

Mais do que um diploma universitário, este tipo de experiência acaba contando muitos pontos no desenrolar de uma carreira profissional.
Recomendo.

17 dezembro 2006

Agora só em fevereiro!


Mais um semestre letivo se foi. Mais uma vez foi necessário suar a camisa para dar conta dos trabalhos e provas impiedosamente impostas aos pobres alunos da graduação da Unisinos. Sim, já vimos esse filme. Parece que não importa o quanto o rapaz prometa a si mesmo que isso nunca mais vai acontecer, que semestre que vem vai ser diferente, que não vai deixar acumular o conteúdo, não importa: passar sufoco em final de semestre parece mesmo fazer parte das regras do jogo.

O ritual não é, portanto, nenhuma novidade. A origem da correria de final de ano data da época remota do primário, quando, certa vez, o rapazinho descobriu que havia pego recuperação em português, possivelmente por passar tempo demais entretendo-se com seu tosco mas divertidíssimo Atari. Daí para frente, apesar de manter um currículo razoavelmente dentro dos conformes, as eventuais notas vermelhas na caderneta sempre marcaram presença. Da mesma forma como a qualidade da caligrafia do caderno misteriosamente entrava em declínio lá pela terceira semana de aula, logo ele chegava à conclusão de que, como programa para suas tardes, uma partida amistosa de “taco” com os amigos era bem mais interessante que o indigesto texto sobre os bichinhos escrotos das aulas de biologia.

No segundo grau, acontece a grande revolução da caderneta, onde o documento informativo das suas notas não precisava mais ser assinado por papai e mamãe. Não que isso tenha feito alguma diferença, mas para a concepção de um fedelho de 13 anos, representava o auge da independência. Daí para a faculdade as coisas não mudam muito de figura.

Já que cursar faculdade acabou sendo uma escolha do próprio rapaz em questão, pelo menos sua dedicação era de se esperar que aumentasse consideravelmente. Um bom começo, foi a ausência de temas insólitos tais como funções metabólicas de amebas e outros seres esquisitos. Pelo fato dele estudar em uma universidade privada, há ainda outro incentivo que, pelo menos indiretamente, contribui para o bom desempenho do estudante: cada vez que o indivíduo contabiliza o dinheiro que estará jogando pela latrina caso reprove em alguma disciplina, uma dose cavalar de substâncias estimulantes inexplicavelmente percorrem todo o seu corpo, capacitando-o a sentar-se durante horas à frente de um livro de cálculo diferencial em pleno sábado de sol. A natureza é mesmo sábia.

Diante da bomba iminente, ele trata de começar a arranjar tempo para se preparar para uma semana recheada de provas decisivas, trabalhos e relatórios. As tentações, no entanto, são muitas. Quando menos espera, ele já está diante da TV assistindo algum besteirol americano, ou então, simplesmente contemplando a beleza sublime das paredes do quarto. É incrível como, nessas horas, o simples fato de não fazer absolutamente nada torna-se um divertimento e tanto.
As provas são realizadas e mais uma vez o rapaz alcança aprovação.

Suada...
Mas da próxima vez será diferente.
Ah, vai ter que ser...

07 dezembro 2006

“Tudo que eles gostam é ilegal, imoral ou engorda”



É notável como uma grande parte da gurizada que por aí circula faz questão de seguir a famosa frase ao pé da letra. Uma questão que me faz pensar muito é: por que raios acaba sendo bonito fazer coisas que... convenhamos, não o são? Lembro que quando eu cursava o “ginásio” (naquele tempo se chamava assim), existia entre os alunos, uma forte segregação entre os chatos e previsíveis CDF´s , ocupantes das primeiras filas de cadeiras nas salas de aula e da bem menos ortodoxa galera do fundo, composta por garotões que atiravam bolas de papel na cabeça dos CDF´s, que não faziam suas lições de casa e que, eventualmente, acabavam passando de ano, mas às custas de vários fios de cabelo branco na cabeça dos pobres pais.

Aí está: uma das primeiras manifestações de inversão de valores, neste estágio ainda inofensivo, mas que pode acabar tomando proporções bem mais desastrosas como veremos adiante.

O tempo passa e os garotões da turma do fundo crescem. Alguns acabam criando cérebro e se dão conta de que é possível ao mesmo tempo “sentar nas últimas cadeiras” e tirar boas notas. Outros pobres infelizes adquirem a síndrome do miolo mole, infelizmente ainda sem cura, cujos sintomas principais vão do ócio ao exibicionismo extremo.

A sociedade brasileira de medicina divulgou recentemente uma cartilha educativa, contendo informações sobre este terrível mal que assola nossos jovens. Eis algumas das formas com que o mal se manifesta:

1- O Massaranduba: Freqüentador assíduo de academias de artes marciais. Seu único intuito como desportista é se dar bem nas brigas. Freqüenta boates, bares e demais casas noturnas para mostrar o quão macho ele é. Sua macheza é proporcional aos centímetros de seu bíceps e ao número de fracotes que conseguiu esmurrar na última briga que provocou. Principal agente causador: Menininhas de decote generoso que se derretem perante cenas que deveriam, na verdade, causar náuseas.

2- O Playboy pobre: Desfila todo sábado à noite naquela avenida cheia de barzinhos lotados, a 20 km/h com seu possante chevette 1985 rebaixado. Dentro do carro há mais quatro enfermos que vão ajudar a rachar a gasolina e que também vão ajudar o motorista a distribuir pomposos elogios às transeuntes do sexo feminino. O itinerário é quase sempre o mesmo: após ficarem tontos de tanto darem voltas no quarteirão, estacionam o possante em frente a uma badalada casa noturna, (preferencialmente com uma bela fila na entrada) e ali ficam, bicando latas de cerveja até que a fila termine ou a cerveja esquente, o que vier primeiro.

3- O Playboy abonado – Esta variação, também conhecida como “filhinho de papai”, apresenta várias semelhanças com o caso anterior. Garotão arrumadinho e com cabelo a la pica-pau, obtido à base de generosas porções de gel bozzano. No aniversário de 18 anos ganhou de presente do pai um Golf Gti Extreme Turbo Extra Plus, o qual sem demora foi transformado em um trio elétrico ambulante. Não possui coordenação motora suficiente para manipular as duas mãos simultaneamente, daí o motivo para elas passarem a maior parte do tempo ocupadas com cigarros e copos de cerveja. Exibe constantemente suas incríveis habilidades automobilísticas, onde com uma perícia invejável esgoela o motor, frita os pneus e dá “cavalinhos de pau” nas vias públicas. Portadores de uma destreza ainda maior têm demonstrado que conseguem inclusive fazer tudo isso com doses bastante significativas de álcool nas veias. Principal agente causador: Menininhas de roupas caras que acham lindo tudo isso.

Nota-se claramente que este ramo da medicina está em plena expansão, e muito está sendo investido no estudo desses males, portanto há de se considerar novas publicações dentro do assunto.

21 novembro 2006

Foz do Iguaçu - missão de paz

Dia desses estive em Foz do Iguaçu, no Paraná, em viagem à serviço pela empresa onde trabalho. Trocando em miúdos: “voltinha” de avião e comprinhas no Paraguai. Ah, sim, é claro, há também a parte do trabalho árduo, naturalmente... (tive que incluir esta parte às pressas para o caso do meu chefe ler este relato). Lembrando que nada disso faz parte da minha rotina de trabalhador e estudante que gasta a maior parte de seu salário com a mensalidade da faculdade.

Enfim, deixemos esses detalhes técnicos para outra ocasião e vamos direto para dentro da aeronave. Experiências anteriores haviam me ensinado que se o vôo dura menos de uma hora, o serviço de bordo se resume à míseras bolachinhas água e sal, balinhas para adoçar o bico e copinhos minúsculos com suquinhos light, servidos por aeromoças sorridentes e supermaquiadas. Se o lanche de bordo não ocupou muito meu tempo, acabei encontrando distração pela janela do avião, pois já em espaço aéreo de Foz, sobrevoamos o Parque Nacional do Iguaçu, com uma bela visão do rio de mesmo nome, da Usina Hidrelétrica de Itaipu e de uma considerável área de mata fechada.

Apesar do clima generoso no Rio Grande do Sul nos últimos dias, onde os casacos já haviam retornado ao fundo do armário, foi quase um choque, para este apreciador do clima tropical, descer do avião e receber na cara uma bela lufada de ar quente e se deparar com o legítimo sol de rachar coco, responsável por elevar a temperatura acima dos 35 graus.

Já no dia seguinte, na etapa internacional da viagem, atravessei a Ponte da Amizade, adentrando no paraíso das compras de qualidade duvidosa. A primeira coisa que reparei foi a incrível semelhança daquilo com a única imagem que eu guardava do local de quase vinte anos atrás, quando estive ali com minha família, que era a imundície e a feiúra generalizada da cidade. Como a tarde já caminhava para o fim, não se via mais a presença maciça dos vendedores ambulantes, os famosos comerciantes dos produtos onde la garantia no existe, mas pelas montanhas de lixo formadas basicamente por embalagens vazias, pude ter uma boa idéia da muvuca no horário de pico. Provavelmente mera precaução, mas a entrada da loja de eletrônicos onde fiz minhas singelas comprinhas era guardada por dois marmanjos de escopeta em punho... Lá dentro, mais moças sorridentes e supermaquiadas. Acredito que tinham inaugurado a loja a pouco tempo, pois até vinho ofereciam à clientela, o qual achei mais prudente dispensar.

Após todo o dever de casa feito e os reais motivos para minha ida a Foz do Iguaçu terem sido encaminhados, ainda me restava um belo sábado de sol para exploração dos arredores. Resolvi então visitar a usina Hidrelétrica de Itaipu, atualmente a maior do mundo. Só não digo que a visita valeu cada centavo porque na verdade foi inteiramente gratuita. É realmente impressionante e também uma visão deslumbrante, a grandiosidade das instalações, onde todos os dados são mensurados na casa dos milhares. Classificada como uma das sete maravilhas da engenharia, a usina produz 25% de toda a energia que o Brasil consome e 95% da consumida no Paraguai. Uma coisa que sempre me intrigou, é de que modo os construtores da barragem haviam construído um muro da altura de um prédio de 65 andares no meio do caudaloso Rio Paraná. As respostas acabaram vindo todas em fotos e vídeos sobre a usina, exibidos para um auditório cheio de gringos de todos os confins do planeta.
No fim das contas, um belo programa para um sábado que começou bem cedo, certamente justificando as horas a menos de sono...

15 novembro 2006

... por Ayrton Senna

O ano era 1994. A seleção brasileira de futebol nos brindava com o tão aguardado tetra campeonato e eu, por sinal bem menos ocupado que hoje em dia, recolhia uns jornais velhos, esquecidos em algum canto empoeirado da garagem. Mas que raios eu queria com aquilo? Material para rabiola de pipa? Forro para gaiola de passarinho? Outros fins menos nobres? Realmente não me recordo. O interessante é que no meio daquela papelada, acabei encontrando uma bela homenagem ao saudoso Ayrton Senna da Silva. E não era pouca coisa: a imensa página do “Estado de São Paulo” ostentava uma também imensa caricatura do nosso talentoso piloto e candidato a herói nacional. No topo da página lia-se em letras garrafais: “Cenas do cotidiano, por Ayrton Senna”. Consistia basicamente de inúmeros trechos aleatórios de entrevistas do piloto, onde ele falava sobre assuntos diversos, expondo fatos do seu cotidiano juntamente com análises críticas e opiniões pessoais sobre cada assunto.
Resolvi levar a página para meu quarto, onde ela não mais estaria condenada a ser estendida no chão da garagem para aparar eventuais gotas de óleo do motor da pick-up Chevrolet 1978 de meu pai (impecável por sinal). Já no meu quarto, a caricatura recebeu um belo tratamento à base de lápis de cor e “canetinha hidrocor” de um daqueles estojos sobreviventes da época da pré-escola – vulgo “prézinho” e, modéstia à parte, acabou ficando jóia. Há de se relevar que eu não era lá muito exigente e nem detinha maiores conhecimento em termos de arte, mas pensando bem, realmente o resultado ficou agradável aos olhos e a caricatura passou a dividir espaço na parede do meu quarto com um pôster da seleção de Bebeto, Romário, Dunga, Branco e companhia, outra “obra de arte” de qualidade duvidosa ali exposta.
Passados alguns meses (ou seriam anos?) o quadro da seleção de 94 acabou virando lenha e a página de jornal com o Sr. Senna estampado deve ter servido para acender alguma fogueira da vizinhança. Mas serviu também para nomear esta minha página. Resta saber se ela, assim como seu “muso” inspirador, também encontrará seu triste fim em alguma fogueira por aí...
Atualização: aos finais de semana
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