Quase todas as classes costumam ter seus respectivos eventos, onde são tratados os assuntos de interesse comum da “catiguria”, sejam palestras, seminários, simpósios, workshops ou encontros em geral. Para um estudante universitário não é diferente. Existem uma série de eventos de ordem acadêmica ou nem tanto, onde são abundantes os espaços de confraternização e troca de idéias, dentro ou fora do campus. Sejam eles elaboradas festas em casas noturnas ou simples rodas de violão, voz e chimarrão (e é mais prudente que a lista de ingredientes não continue), sempre encontramos gente como a gente, que sabe que na verdade deveria estar em casa estudando para aquela prova do dia seguinte...
Sem sair do contexto acadêmico, vamos citar as Casas de Estudantes e seus moradores, time deste que vos escreve. Há quase três anos morando em um espaço desses, tive a oportunidade – e não estaria exagerando se dissesse privilégio – de participar do II Encontro Regional de Casas de Estudantes - ERECE. Fora a responsabilidade de representar nossa casa juntamente com outras cinco colegas, estivemos, durante três dias, dividindo um espaço no campus da Universidade de Rio Grande com mais duzentos estudantes oriundos de diversas universidades do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Umas das coisas que me chamaram atenção é a incrível heterogeneidade de perfis dos alunos do ensino superior. Se julgasse apenas pelos participantes do Erece, a disparidade não seria tão grande assim. Só que, quando se incluem na comparação algumas peças raras que freqüentam as universidade particulares, aí a coisa muda de figura e os contrastes são no mínimo curiosos. Colegas, digo a vocês que esse assunto rende, portanto retornaremos a ele em um futuro próximo.
Voltando à Rio Grande, vamos analisar o cenário do Erece. As instalações, gentilmente cedidas pela organização do evento, consistiam em um espaço ao ar livre para colocação de barracas. Em um ato de extrema generosidade, foi disponibilizado também o chão do complexo desportivo e os bancos de madeira dos vestiários para colocação de colchonetes ou sacos de dormir.
Um dos pontos altos do evento, em minha opinião, foi a apresentação de cada uma das casas participantes, onde as características, particularidades e problemas de cada uma eram comentadas por seus representantes. Especial ênfase foi dada ao último item com a exposição de uma gama realmente grande de problemas dos mais variados possíveis. E nada de fuxicos, picuinhas e demais problemas previsíveis e sacais. Nesse quesito, as Casas de Estudantes costumam nos brindar com verdadeiras “anedotas” daquelas em que se ri para não chorar.
A verdade é que pouca gente realmente sabe o que é uma Casa de Estudante e o que é fazer parte de uma. O diferencial está justamente aí: não se limitar a morar, mas sim, ser parte integrante.
Frequentemente associadas às repúblicas ou meramente a um espaço onde um bando de jovens arruaceiros divide um teto e um chão engordurado, as Casas de Estudantes têm lutado para reverter, perante a sociedade, esta imagem de antro de libertinagem. Fruto da luta de estudantes universitários sem condições de arcar com despesas de aluguéis de imóveis, as Casas de Estudantes possuem uma estrutura organizacional bem peculiar. Seus moradores têm sob sua responsabilidade, a administração e a preservação de um bem que deve permanecer íntegro para as próximas gerações de moradores. Uma coisa porém, têm sido unânime. O aprendizado e o crescimento cultural que um ambiente deste proporciona a seus moradores é notável. Não apenas se aprende a conviver e lidar com pessoas, esta arte que durante milênios o ser humano vem tentando aperfeiçoar, mas também se cria, de forma bastante sólida, o hábito de buscar soluções que venham a beneficiar todo o grupo e não apenas a si próprio.
Mais do que um diploma universitário, este tipo de experiência acaba contando muitos pontos no desenrolar de uma carreira profissional.
Recomendo.