21 dezembro 2007

CPMF, a menina dos olhos do Lula.

Pelo jeito não adiantou nada o nosso presidente espernear, pois acabaram cortando mesmo a CPMF. Com uma teta a menos para mamar, o governo imediatamente começou a correr atrás de outra fonte. Essa busca, porém, representa grandes possibilidades de novos prejuízos ao contribuinte. Até aí nenhuma surpresa, afinal, quem prova um doce, acaba não querendo mais passar sem ele.

Durante a campanha pró-CPMF, adotando a tradicional pose de defensor dos fracos e oprimidos, o presidente Lula declarou que, aqueles que votassem contra a renovação do imposto, assumiriam a responsabilidade pelas mazelas da saúde pública, já que este era o destino do dinheiro, pelo menos na teoria. Em uma tacada só, nosso presidente fez propaganda do imposto e ainda aproveitou para tirar o dele da reta. Assim sendo, caso fosse derrotado na votação, bastaria dizer: estão vendo, a saúde vai mal porque vocês cortaram a CPMF, não tenho nada a ver com isso, não sei de nada, não vi nada (já ouvi isso em algum lugar). Mas, e durante todo o tempo em que o imposto foi cobrado, hein Sr. Presidente? Para onde foi todo esse recurso? Ele foi corretamente aplicado ou apenas deixou mais saudáveis certas carteiras por aí?

Em mais um discurso de improviso (ai que medo...), o excelentíssimo, com seu habitual raciocínio superficial, afirmou que os pobres não pagam CPMF. Mas alguém por acaso acredita que as grandes empresas não embutem seus custos com a CPMF nos produtos que comercializam? O seu Juca, por exemplo, quando compra um pacote de fubá, paga o tributo indiretamente, e este certamente vai estar presente no seu prato de polenta, temperando a iguaria.

Em outra tacada de mestre, nosso estrategista barbado, vendo que acabaria sendo derrotado na votação pela extinção o imposto, enviou uma carta ao Senado, comprometendo-se a destinar a totalidade da arrecadação da CPMF para a saúde. Mas espera lá! O imposto não tinha sido criado exatamente para isso? Não foi sempre esse o destino do dinheiro? Com essa declaração, ou melhor, com esse tiro no pé, ele nos passa o seguinte recado: Companheirada, é o seguinte: se vocês revogarem o imposto, eu prometo que paro de desviá-lo e passo a aplicá-lo direitinho, como sempre deveria ter sido feito, pode ser? É pegar ou largar!

Mesmo sem acompanhar bulhufas de todo esse bafão que precedeu a votação da CPMF, uma coisa particularmente me chamou a atenção, dessas que a gente pega no ar. Viram como os políticos ficaram alvoroçados, em discussões e conversinhas pelos corredores do Congresso Nacional? Não estou afirmando nada, mas sabe-se lá quantas trocas de favores rolaram nessa politicagem com tantos interesses em jogo. Não tem jeito, sempre acabamos imaginando uma rede interminável de armações, de “toma-lá-dá-cá”, do “me ajuda que eu te ajudo”, de “uma mão lava a outra” e outros esquemas dos quais todo mundo sai contente. A CPMF foi extinta, mas não necessariamente porque julgaram que isto seria o melhor para o país. Muito mais sensato é afirmar que no cabo de guerra de interesses, esse foi o lado mais forte, seja lá por qual motivo. Será que estou sendo excessivamente maldoso com os rapazes de terno?

O governo, preocupado com o “rombo” causado pela extinção da CPMF, já está arquitetando maneiras de não ficar de saia justa. Acabam de aprovar um tal de DRU, um artifício encontrado para permitir ao governo gastar livremente 20% de suas receitas. Não domino o assunto, mas essas artimanhas nunca me cheiraram bem. A questão é: já que todos estão queimando os neurônios em busca de uma maneira de compensar a “perda”, por que então ninguém nunca cogitou extinguir algumas sanguessugas do dinheiro público? Bons exemplos são os Ministérios inusitados e os cargos de utilidade duvidosa, os populares “aspones” (assessores de porra nenhuma), um dos setores que mais tem contribuído para a redução dos índices de desemprego atualmente.

Mas e a CPMF? Afinal, como ficarão as coisas sem ela? Só nos resta esperar que este finado imposto não seja como mato no nosso quintal, onde enquanto arrancamos um, outros cinco nascem.

09 dezembro 2007

Delírios de um cidadão aborrecido


Cartórios e repartições públicas sempre me inquietaram, sinto calafrios sempre que visito algum deles. No cartório, enquanto aguardo minha vez de ser atendido, costumo me entreter contemplando as mesas com suas pilhas de documentos, processos, petições, procurações, declarações, ou seja lá quais outros nomes feios e cabeludos existam para nomear aquelas montanhas de celulose. Na repartição pública, contemplo o grande salão coalhado de mesinhas, cada qual com uma pilha de pastas, um copo de cafezinho e uma senhora de meia idade com cara de manga chupada. Fico pensando nas histórias por trás de cada uma daquelas folhas de papel empoeiradas, imaginando que, para cada uma delas, existe um contribuinte se incomodando com algum assunto. Chego à conclusão que há muita gente infeliz no mundo...

Ainda não conheci um único indivíduo que simpatizasse com burocracia. Mas se algum dia eu vier a encontrá-lo, esse alguém será um espécime bastante raro, de gostos para lá de excêntricos, capaz de apreciar coisas como barulhinho de broca de dentista ou chuchu à milanesa.

Algo não faz sentido nessa história. Apesar de a humanidade juntar forças para maldizer a burocracia, alguma força oculta ainda consegue misteriosamente subjugar toda a humanidade. E a burocracia segue reinando entre nós, imutável e inabalável, tal como um dia que vem depois do outro.

Quer saber? Bem feito para todos nós. Quem mandou sermos seres imperfeitos, cujo livre arbítrio precisa ser constantemente moldado por regras e leis? Regras e leis, por sinal, criadas por outros tão imperfeitos como nós. E o resultado disso? Leis também imperfeitas, cheias de brechas e limitações. Quanto mais brechas, mais papel se gasta na tentativa de tapá-las. Assim, é bem possível que cada brasileiro produza em média uns 200 kg de burocracia anualmente, se bobear é mais papel per capita do que aquele que gastamos no banheiro, com a diferença que o primeiro serve para limpar só o nosso nome, o segundo já tem mais utilidades.

Pronto, está tudo mais claro agora. Podemos ficar mais tranqüilos, pois a burocracia está com seus dias contados. Ela se extinguirá assim que a humanidade inteira estiver livre de defeitos, pois a partir daí ela simplesmente não será mais necessária. Não haverá mais atestados, procurações, autenticações, pois a palavra de cada um constituirá prova suficiente. Aí, já aproveitamos o embalo e implantamos uma anarquia neste país. Afinal, qual seria a necessidade de um governo pondo ordem na casa se a casa pudesse ser ordenada por nós mesmos? A Câmara e o Senado seriam extintos... Não é o máximo?
Atualização: aos finais de semana
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