Antes do início é aquela expectativa! O melhor da festa é esperar por ela, já dizia a velha máxima. Para o Brasil, mais do que qualquer outro país no mundo, ela cai como uma luva. No ano das olimpíadas, a contagem regressiva segue mês a mês, até a grande cerimônia de abertura, que é transmitida com pompa e com recordes de audiência. E quando a numerosa delegação brasileira entra no estádio, o clima é de otimismo e confiança: “vamos todos torcer por muitas medalhas para o Brasil”, comenta o narrador.
As disputas iniciam-se e passamos a assistir estarrecidos a impotência do Brasil diante de alguns países. Como todos sabem, os adversários dos nossos atletas não se limitam aos integrantes das demais delegações. Para eles, as competições já haviam iniciado muito antes das olimpíadas, enquanto competiam contra as enjambrações sempre presentes nos programas de treinamento em um país que não investe no esporte. Nações que se consagram como grandes medalhistas são muito bem estruturadas neste ponto e oferecem verdadeiros “planos de carreira” aos seus atletas. É claro que todo esse investimento é bastante motivado pela propaganda que as medalhas costumam promover, mas pelo menos existe a consciência de que sem ovo quebrado não há gemada. No Brasil, os únicos ovos quebrados continuam sendo os da marmita do maratonista, que nas horas vagas é pedreiro e sempre arranja um tempinho para treinar entre uma laje concretada e outra.
Uma das poucas modalidades onde o Brasil tem apresentado uma hegemonia razoavelmente constante é o futebol, pois o esporte parece estar mesmo no sangue do brasileiro. Mas o que era para ser só alegria em Pequim, acaba virando motivo de irritação, quando assistimos jogadores de salários milionários e no auge da juventude jogando feito seniores, arrastando os respectivos traseiros em campo, levando um chocolate da Argentina e deixando o Dieguito Maradona todo sorridente na tribuna.
Nosso porta voz de tudo isso, o onipresente Galvão Bueno, transmite de hipismo a pebolim com suas já conhecidas e indesejadas pinceladas de psicologia de boteco. No clímax das disputas, a imagem do esporte na tela da TV ainda tem que dividir espaço com a família dos atletas. Lá estão, radiantes, o pai, a mãe, a vovó matrona, os irmãozinhos ranhentos e os vizinhos penetras, todos em um uníssono “filma nóis Galvão!” Sempre há no time um atleta escolhido para a sessão baba ovo, geralmente o componente da família em questão é o eleito. Quando isso acontece, o jeito é repousar o dedão nas imediações da tecla mute.
E assim a olimpíada vai seguindo, ignorada por grande parte dos brasileiros que precisam acordar cedo para trabalhar e não podem se dar ao luxo de acompanhar ao vivo, madrugada adentro, a choradeira brasileira. Que o diga o capixaba Fábio Luiz, o jogador de vôlei de praia derrotado pelos americanos na disputa pelo ouro. Cabra macho que é, tentou como pôde disfarçar com seus óculos de sol os olhos marejados, mas acabou desmascarado pelo sacana do repórter que denunciou em rede nacional a lágrima que descia pelo seu rosto.
Nestas olimpíadas algo incomum está ocorrendo. Os chineses, estimulados pelo coro de 1 bilhão de torcedores, vêm aplicando uma surra premeditada nos Estados Unidos, em um prognóstico da possível semelhança entre o quadro de medalhas olímpico e o quadro econômico mundial. Fica cada vez mais claro ao mundo que o gigante está definitivamente acordando. Talvez seja hora do Brasil, outro gigante, começar a espiar como é que se faz isso. Se na natureza, tal como no governo, nada se cria, tudo se transforma (ou se copia), aí está uma boa oportunidade para lançarmos alguns olhares para a China, tentando copiar a parte boa e transformar a parte ruim, o que, por sinal, eles também têm de sobra.
22 agosto 2008
08 agosto 2008
PAPO RETO - Episódio de hoje: O prato vazio
- Quer saber? Tem um monte de coisas que me irritam em você.
- Ah é?
- É. Pra começar te acho um cara muito individualista.
- Acha? E como você chegou a essa brilhante conclusão?
- Os pratos. Uma vez íamos almoçar juntos e você só pegou o seu prato no armário.
- E o que tem isso?
- Isso prova que você é um individualista, que só pensa em você, que não está nem aí para os outros.
- Eu sinceramente desconhecia essa relação entre pratos e personalidades. Não te ocorreu que eu posso simplesmente não ter me ligado?
- Não. Se você não pensasse apenas em si próprio teria posto ambos os pratos.
- Sei. E onde você leu isso?
- Nunca li coisa alguma.
- Percebe-se.
- Ei, o que você quer dizer com isso?
- Deixa pra lá. Mas veja só, na ocasião você também não serviu meu prato, somente o seu. Você também é individualista.
- Não, isso é diferente!
- Qual a diferença?
- Ah, tá na cara né?
- Não, não está.
- Olha, essa é minha interpretação, tá bom? Vai ver estou errada então!
- Certa a resposta!
- Engraçadinho... Aposto que pensa que estou falando um monte de abobrinhas.
- É uma excelente aposta. Ponha bastante dinheiro nela.
- Quer dizer então que você realmente acha que estou errada?
- Olha, sei lá. Mas esses seus parâmetros estão pra lá de suspeitos.
- Pra mim está perfeitamente claro que essa sua atitude demonstra individualismo. É tão difícil pegar o meu prato?
- Não, não é nada difícil.
- Então porque você não o pegou para me provar o contrário?
- Porque não estou interessado em provar nada. Não estou em campanha eleitoral.
- Que é isso guri? Andou fumando um? O que é que campanha eleitoral tem a ver com o assunto?
- Ocorreu-me agora.
- De onde você tirou isso?
- Alguns candidatos passam toda a campanha sorrindo e colocando na mesa lindos pratos vazios para todo o eleitorado, com a “maior” boa vontade. Outros não se dão ao trabalho. Preferem se dedicar ao preparo a comida, mesmo que isso os deixe suados e descabelados, afinal, é a comida que sacia a fome, mesmo sem um prato bonito. Já o contrário não ocorre, a recíproca não é verdadeira.
- Hãã?
- E tem gente que passa a vida dando mais atenção ao prato do que à comida. Depois, geralmente se arrepende.
- Ah é?
- É. Pra começar te acho um cara muito individualista.
- Acha? E como você chegou a essa brilhante conclusão?
- Os pratos. Uma vez íamos almoçar juntos e você só pegou o seu prato no armário.
- E o que tem isso?
- Isso prova que você é um individualista, que só pensa em você, que não está nem aí para os outros.
- Eu sinceramente desconhecia essa relação entre pratos e personalidades. Não te ocorreu que eu posso simplesmente não ter me ligado?
- Não. Se você não pensasse apenas em si próprio teria posto ambos os pratos.
- Sei. E onde você leu isso?
- Nunca li coisa alguma.
- Percebe-se.
- Ei, o que você quer dizer com isso?
- Deixa pra lá. Mas veja só, na ocasião você também não serviu meu prato, somente o seu. Você também é individualista.
- Não, isso é diferente!
- Qual a diferença?
- Ah, tá na cara né?
- Não, não está.
- Olha, essa é minha interpretação, tá bom? Vai ver estou errada então!
- Certa a resposta!
- Engraçadinho... Aposto que pensa que estou falando um monte de abobrinhas.
- É uma excelente aposta. Ponha bastante dinheiro nela.
- Quer dizer então que você realmente acha que estou errada?
- Olha, sei lá. Mas esses seus parâmetros estão pra lá de suspeitos.
- Pra mim está perfeitamente claro que essa sua atitude demonstra individualismo. É tão difícil pegar o meu prato?
- Não, não é nada difícil.
- Então porque você não o pegou para me provar o contrário?
- Porque não estou interessado em provar nada. Não estou em campanha eleitoral.
- Que é isso guri? Andou fumando um? O que é que campanha eleitoral tem a ver com o assunto?
- Ocorreu-me agora.
- De onde você tirou isso?
- Alguns candidatos passam toda a campanha sorrindo e colocando na mesa lindos pratos vazios para todo o eleitorado, com a “maior” boa vontade. Outros não se dão ao trabalho. Preferem se dedicar ao preparo a comida, mesmo que isso os deixe suados e descabelados, afinal, é a comida que sacia a fome, mesmo sem um prato bonito. Já o contrário não ocorre, a recíproca não é verdadeira.
- Hãã?
- E tem gente que passa a vida dando mais atenção ao prato do que à comida. Depois, geralmente se arrepende.
01 agosto 2008
Vote com consciência, mas haja paciência!
Estamos em 2008, ano eleitoral. E não é pouca merreca, diga-se de passagem, pois tratam-se das eleições para escolha de prefeitos e vereadores. Lembram o que isso significa? Pois isso representa uns “sei lá quantos” mil candidatos de sorriso colgate enchendo diariamente nosso saco por votos em todo o território nacional. Eles estão chegando de mansinho, já começamos a ver nas nossas cidades as primeiras carrancas emporcalhando fachadas, chão, postes e quaisquer outros espaços “disponíveis”.
Muito em breve, coisas bizarras aparecerão também na TV, para a alegria dos diretores de programas humorísticos. Figurinhas das mais variadas surgirão na sua casa, desde pobres miseráveis com uma cartolina na parede e em um estúdio mal iluminado à disposição, até os mais ajeitadinhos, manipulados por marketeiros eficientes e de rostinhos impecavelmente maquiados pelas melhores bichas do mercado.
Ainda é cedo, e por enquanto, bem poucos cartazes arruinam o urbanismo das nossas cidades, tais como uma fina garoa que não molha ninguém. Mas eis que virá o tempo em que a tormenta apocalíptica lançará sobre a terra toda a sua fúria, e dragões de dez cabeças e sete chifres arrastarão com suas caudas a terça parte das estrelas do céu, que cairão sobre a terra em forma de toneladas de santinhos. Ainda que todo aquele papo ambiental esteja na moda, uma quantidade absurda de papel cuja única utilidade será entupir bueiros, serão espalhadas pelas ruas. Aliás, será que nunca antes na história deste país alguém pensou nos benefícios de um decreto proibindo isso?
E como gostam de gerar lixo! Alguém precisa avisá-los que quase ninguém escolhe candidato por um cartaz! Não é simplesmente porque simpatizei com este ou aquele sorriso amarelo que vou votar no seu dono. Não me perguntem como, mas deve haver uma maneira mais inteligente de se fazer popular do que esse método via lavagem cerebral. Enquanto nenhuma mente brilhante encontrar outra maneira, continuaremos presenciando os velhos e surrados clichês eleitorais. Sorte das criancinhas, que ainda vão ganhar muito colo.
E não se esqueça de prestigiar as propagandas na TV dos candidatos do seu município. Prepare a pipoca e chame os amigos, pois será diversão garantida.
Muito em breve, coisas bizarras aparecerão também na TV, para a alegria dos diretores de programas humorísticos. Figurinhas das mais variadas surgirão na sua casa, desde pobres miseráveis com uma cartolina na parede e em um estúdio mal iluminado à disposição, até os mais ajeitadinhos, manipulados por marketeiros eficientes e de rostinhos impecavelmente maquiados pelas melhores bichas do mercado.
Ainda é cedo, e por enquanto, bem poucos cartazes arruinam o urbanismo das nossas cidades, tais como uma fina garoa que não molha ninguém. Mas eis que virá o tempo em que a tormenta apocalíptica lançará sobre a terra toda a sua fúria, e dragões de dez cabeças e sete chifres arrastarão com suas caudas a terça parte das estrelas do céu, que cairão sobre a terra em forma de toneladas de santinhos. Ainda que todo aquele papo ambiental esteja na moda, uma quantidade absurda de papel cuja única utilidade será entupir bueiros, serão espalhadas pelas ruas. Aliás, será que nunca antes na história deste país alguém pensou nos benefícios de um decreto proibindo isso?
E como gostam de gerar lixo! Alguém precisa avisá-los que quase ninguém escolhe candidato por um cartaz! Não é simplesmente porque simpatizei com este ou aquele sorriso amarelo que vou votar no seu dono. Não me perguntem como, mas deve haver uma maneira mais inteligente de se fazer popular do que esse método via lavagem cerebral. Enquanto nenhuma mente brilhante encontrar outra maneira, continuaremos presenciando os velhos e surrados clichês eleitorais. Sorte das criancinhas, que ainda vão ganhar muito colo.
E não se esqueça de prestigiar as propagandas na TV dos candidatos do seu município. Prepare a pipoca e chame os amigos, pois será diversão garantida.
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