09 dezembro 2007

Delírios de um cidadão aborrecido


Cartórios e repartições públicas sempre me inquietaram, sinto calafrios sempre que visito algum deles. No cartório, enquanto aguardo minha vez de ser atendido, costumo me entreter contemplando as mesas com suas pilhas de documentos, processos, petições, procurações, declarações, ou seja lá quais outros nomes feios e cabeludos existam para nomear aquelas montanhas de celulose. Na repartição pública, contemplo o grande salão coalhado de mesinhas, cada qual com uma pilha de pastas, um copo de cafezinho e uma senhora de meia idade com cara de manga chupada. Fico pensando nas histórias por trás de cada uma daquelas folhas de papel empoeiradas, imaginando que, para cada uma delas, existe um contribuinte se incomodando com algum assunto. Chego à conclusão que há muita gente infeliz no mundo...

Ainda não conheci um único indivíduo que simpatizasse com burocracia. Mas se algum dia eu vier a encontrá-lo, esse alguém será um espécime bastante raro, de gostos para lá de excêntricos, capaz de apreciar coisas como barulhinho de broca de dentista ou chuchu à milanesa.

Algo não faz sentido nessa história. Apesar de a humanidade juntar forças para maldizer a burocracia, alguma força oculta ainda consegue misteriosamente subjugar toda a humanidade. E a burocracia segue reinando entre nós, imutável e inabalável, tal como um dia que vem depois do outro.

Quer saber? Bem feito para todos nós. Quem mandou sermos seres imperfeitos, cujo livre arbítrio precisa ser constantemente moldado por regras e leis? Regras e leis, por sinal, criadas por outros tão imperfeitos como nós. E o resultado disso? Leis também imperfeitas, cheias de brechas e limitações. Quanto mais brechas, mais papel se gasta na tentativa de tapá-las. Assim, é bem possível que cada brasileiro produza em média uns 200 kg de burocracia anualmente, se bobear é mais papel per capita do que aquele que gastamos no banheiro, com a diferença que o primeiro serve para limpar só o nosso nome, o segundo já tem mais utilidades.

Pronto, está tudo mais claro agora. Podemos ficar mais tranqüilos, pois a burocracia está com seus dias contados. Ela se extinguirá assim que a humanidade inteira estiver livre de defeitos, pois a partir daí ela simplesmente não será mais necessária. Não haverá mais atestados, procurações, autenticações, pois a palavra de cada um constituirá prova suficiente. Aí, já aproveitamos o embalo e implantamos uma anarquia neste país. Afinal, qual seria a necessidade de um governo pondo ordem na casa se a casa pudesse ser ordenada por nós mesmos? A Câmara e o Senado seriam extintos... Não é o máximo?

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