Agora é oficial: deputado federal trabalha três dias por semana, de terça a quinta. Alegação: precisam de mais tempo para reunirem-se com suas bases nos respectivos Estados. Precisam participar de audiências, movimentos sociais, churrascos de integração, precisam assistir ao Gugu e ao Faustão sem correria para pegar o avião. A agenda de um deputado federal, percebe-se, é muito apertada.
Já tive a infelicidade de, durante uma visita a Brasília, entrar dentro da Câmara durante uma sessão e contemplar centenas de poltronas vazias, sem os respectivos traseiros instalados. A cena que presenciei foi semelhante ao que já tinha visto várias vezes pela TV: uma das “vossas excelências” discursando para meia dúzia de outras “vossas excelências” fingindo que prestavam atenção.
É batata. Quando se pensa em deputado, se pensa em salário alto. Já que precisamos encontrar uma explicação para tudo, vamos tentar explicar o inexplicável. Eis uma de minhas teorias, bem ao estilo “Severino Cavalcanti”, que tenta explicar o valor dos vencimentos da Câmara: O salário pode parecer alto, mas se analisarmos do que ele é composto, poderemos até entender os valores, a primeira vista astronômicos. Na verdade, o salário base de um deputado federal nem é assim tão alto. O que faz com que ele suba são os adicionais bravamente conquistados pelo sindicato dos deputados, depois de muita luta da categoria. A questão é que os adicionais são numerosos, por isso é que o salário acaba ficando elevado, vejam alguns deles:
O primeiro benefício concedido é o adicional “saudades da mamãe”. Todo mundo sabe o quão custoso é, para um político, isolar-se em Brasília por infindáveis três dias, afinal, dentro de uma semana útil que vai de terça a quinta feira, muita coisa acontece nos seus Estados de origem, e eles acabam sendo privados de tudo isso em benefício do país. O adicional periculosidade compensa, principalmente os vovôs do congresso, pelo perigo de baterem as botas antes de terem tempo hábil para torrar toda sua fortuna. Já o adicional insalubridade é pago com base em um laudo que comprovou a toxidade do óleo de peroba em uso regular sobre a pele do rosto. Há também o adicional penosidade, que compensa os homens do poder pelo martírio de labutarem usando uma gravata apertada, e ainda o adicional cafeína, para poderem bancar a cota mensal da substância que os mantém acordados durante a proclamação das histórias para boi dormir, nos discursos de seus colegas. O adicional “rabo preso” remunera todos aqueles que estão sempre a dever favores aos outros, para que possam saudar fielmente suas dívidas. O mesmo recurso pode ainda ser útil no caso de despesas com compra emergencial de votos. O adicional quebra de caixa assegura o pão na mesa da família do nobre político, no caso de um corte súbito na renda familiar, causada por uma eventual cassação de mandato. O adicional gafe é concedido aos profissionais que, para o desempenho da função, precisem se expor constantemente ao ridículo, quando precisam justificar algum ato ilícito com desculpas mais esfarrapadas que calças de mendigo, convicto de que em algum lugar, algum trouxa irá acreditar. E é claro, o auxílio advogado, item de consumo, recentemente incluído na cesta básica dos parlamentares.
Como podem ver, para tudo há uma explicação plausível. Logo estará sendo votado um novo aumento nos salário dos nossos representantes. Ao invés de ficarmos brabos, raivosos e indignados, resignemo-nos à nossa insignificância e procuremos entender o lado dos homens de terno. Isso, é claro, se ele existir.
É lamentável, mas o fato é que, diante de muito cascalho, muita gente se corrompe. Ganhar cada vez mais passa a ser o único objetivo do jogo. No fim das contas, nossos colegas acabam sendo movidos pelo dinheiro e não mais pelas antigas ideologias. O jovem estudante, que nas décadas de 60 e 70 esbravejava com um megafone nas mãos e era movido apenas pela sede de mudança, pelo desejo de acabar com a opressão, com as desigualdades e de fazer história, hoje se transformou em um velho barrigudo que passa a “semana inteira” procurando maneiras de se beneficiar através de acordos, coligações e joguinhos de interesses. Com tantas atividades na agenda, é claro que vai faltar tempo para brigar pelo desenvolvimento da nação. O motivo pelo qual foram eleitos acaba assim ficando em segundo plano.
Já tive a infelicidade de, durante uma visita a Brasília, entrar dentro da Câmara durante uma sessão e contemplar centenas de poltronas vazias, sem os respectivos traseiros instalados. A cena que presenciei foi semelhante ao que já tinha visto várias vezes pela TV: uma das “vossas excelências” discursando para meia dúzia de outras “vossas excelências” fingindo que prestavam atenção.
É batata. Quando se pensa em deputado, se pensa em salário alto. Já que precisamos encontrar uma explicação para tudo, vamos tentar explicar o inexplicável. Eis uma de minhas teorias, bem ao estilo “Severino Cavalcanti”, que tenta explicar o valor dos vencimentos da Câmara: O salário pode parecer alto, mas se analisarmos do que ele é composto, poderemos até entender os valores, a primeira vista astronômicos. Na verdade, o salário base de um deputado federal nem é assim tão alto. O que faz com que ele suba são os adicionais bravamente conquistados pelo sindicato dos deputados, depois de muita luta da categoria. A questão é que os adicionais são numerosos, por isso é que o salário acaba ficando elevado, vejam alguns deles:
O primeiro benefício concedido é o adicional “saudades da mamãe”. Todo mundo sabe o quão custoso é, para um político, isolar-se em Brasília por infindáveis três dias, afinal, dentro de uma semana útil que vai de terça a quinta feira, muita coisa acontece nos seus Estados de origem, e eles acabam sendo privados de tudo isso em benefício do país. O adicional periculosidade compensa, principalmente os vovôs do congresso, pelo perigo de baterem as botas antes de terem tempo hábil para torrar toda sua fortuna. Já o adicional insalubridade é pago com base em um laudo que comprovou a toxidade do óleo de peroba em uso regular sobre a pele do rosto. Há também o adicional penosidade, que compensa os homens do poder pelo martírio de labutarem usando uma gravata apertada, e ainda o adicional cafeína, para poderem bancar a cota mensal da substância que os mantém acordados durante a proclamação das histórias para boi dormir, nos discursos de seus colegas. O adicional “rabo preso” remunera todos aqueles que estão sempre a dever favores aos outros, para que possam saudar fielmente suas dívidas. O mesmo recurso pode ainda ser útil no caso de despesas com compra emergencial de votos. O adicional quebra de caixa assegura o pão na mesa da família do nobre político, no caso de um corte súbito na renda familiar, causada por uma eventual cassação de mandato. O adicional gafe é concedido aos profissionais que, para o desempenho da função, precisem se expor constantemente ao ridículo, quando precisam justificar algum ato ilícito com desculpas mais esfarrapadas que calças de mendigo, convicto de que em algum lugar, algum trouxa irá acreditar. E é claro, o auxílio advogado, item de consumo, recentemente incluído na cesta básica dos parlamentares.
Como podem ver, para tudo há uma explicação plausível. Logo estará sendo votado um novo aumento nos salário dos nossos representantes. Ao invés de ficarmos brabos, raivosos e indignados, resignemo-nos à nossa insignificância e procuremos entender o lado dos homens de terno. Isso, é claro, se ele existir.
É lamentável, mas o fato é que, diante de muito cascalho, muita gente se corrompe. Ganhar cada vez mais passa a ser o único objetivo do jogo. No fim das contas, nossos colegas acabam sendo movidos pelo dinheiro e não mais pelas antigas ideologias. O jovem estudante, que nas décadas de 60 e 70 esbravejava com um megafone nas mãos e era movido apenas pela sede de mudança, pelo desejo de acabar com a opressão, com as desigualdades e de fazer história, hoje se transformou em um velho barrigudo que passa a “semana inteira” procurando maneiras de se beneficiar através de acordos, coligações e joguinhos de interesses. Com tantas atividades na agenda, é claro que vai faltar tempo para brigar pelo desenvolvimento da nação. O motivo pelo qual foram eleitos acaba assim ficando em segundo plano.
Um comentário:
Essa com certeza merecia estar num grande jornal de circulação!
Descrição impecável dos auxílios!!!
Tem um artigo do escritor Rubem Alves, que fala sobre essa síndrome do poder, ele acredita que na maioria dos casos o político passa a carregar um "demônio" dentro de si, que o impede de seguir com sua ideologia, e princípios que um dia defendeu ardentemente, ou que na maioria dos casos, falava só da boca pra fora...
Parabéns!!!!
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