17 maio 2008

Buscando um lugar ao sol.

Você sempre sonhou em cursar uma renomada universidade, mas a mensalidade lhe custaria o equivalente a um fusca 1979? O vestibular da universidade federal é um bicho feio que tende a fazer suas vísceras se revolverem? Seus problemas acabaram! Chegou o Enem 2008, o Exame Nacional do ensino médio, que este ano está completando uma década de vida.

O exame foi criado em 1998, com o objetivo de avaliar o desempenho dos egressos do ensino médio. Durante os primórdios do programa, no entanto, os candidatos aparentemente sentiam falta de algum estímulo que os convencesse a pagar a inscrição e perder um Domingão do Faustão para irem prestar a prova. Nas primeiras edições, portanto, o números de inscritos costumava ser bem modesto.

A cada ano, no entanto, este número ia aumentando, até que em 2004, quando o Ministério da Educação criou o Programa Universidade para Todos (ProUni) e vinculou a concessão de bolsas em universidades privadas à nota obtida no exame, o número de inscritos misteriosamente cresceu de forma exponencial. Desde então, este número vem superando com folga a marca dos três milhões.

Como acontece com absolutamente tudo nesta vida, o Enem e o ProUni conquistaram seus fãs, mas também fizeram surgir críticas. Certamente existem pontos a ponderar, mas ao que tudo indica, o programa tornou mais democrático o ingresso no ensino superior, ao permitir que muitos jovens, sem uma renda familiar que lhes garantiria o acesso a uma universidade, tenham agora mais chances de se apoiarem nos seus méritos pessoais para conseguirem a vaga.

Um bom exemplo disso seria o Zé Tonico, guri inteligente e esforçado que era sempre visto por aí com seus tênis Conga de segunda mão e suas roupas compradas por sua mãe em “promoções de balaio” no Mercado Público da cidade. Seu pai saía todos os dias bem cedo, em busca de uns bicos que garantiriam a comida na mesa da família de oito filhos. Obviamente, este panorama não muito colorido colocara Zé Tonico à mercê do ensino público. Estudava na Escola Municipal “Professorinha Carmélia Viana Lurdes Conceição dos Passos”, que apesar de não ser nenhuma Harvard, pelo menos dispunha de uma biblioteca, mirradinha que só vendo, mas de onde o Zé Tonico retirava livros surrados que lhe serviam de lazer durante os finais de semana chuvosos.

Este mesmo Zé Tonico, orientado poucos anos atrás por algum benfeitor, acabou se inscrevendo para a tal da prova do Enem, onde, por sinal, se deu muito bem. A boa pontuação colocou o rapaz na cara do gol, em uma jogada que iria projetá-lo para realizações com as quais vinha sonhando desde a adolescência. Tendo conquistado uma bolsa integral de estudos em uma renomada universidade, a essa altura ele já passa da metade do curso de graduação e está com tantos planos na cabeça que mal consegue administrá-los todos. Em pouco tempo estará formado, trabalhando por um salário digno e dando orgulho aos seus pais e uma chance a mais aos seus irmãos.

Assim como o Zé Tonico, milhares de estudantes vêm se beneficiando do Enem e do ProUni, que parecem estar favorecendo quem realmente precisa e merece. Por tudo isso, o aniversário de uma década do Enem merece comemoração, já que ele segue firme e forte no sistema educacional brasileiro, às vezes tão manco que chega a beirar o insustentável. Merece ainda festinha com bolo, brigadeiros, balões e presentes. E o que dar de presente? O Enem é uma idéia que parece ter dado certo, é também uma questão que deveria provocar reflexões. Reflexões, aí está! Vamos embrulhá-las todas para presente. Ele vai adorar.

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Atualização: aos finais de semana
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