Uma excelente opção de lazer tem sido o julgamento dos acusados de envolvimento com o esquema do mensalão. Atualmente em cartaz e estrelando os mais bem pagos advogados brasileiros, esta peça é garantia de divertimento e de boas gargalhadas para toda a família.
A casa de espetáculos do Supremo Tribunal Federal, em mais uma de suas grandiosas apresentações, abriu recentemente espaço para a peça humorística “Meu cliente é um santo”, estrelada pelos advogados de 40 acusados de corrupção, indiciados durante as apurações do esquema do mensalão. Como todo mundo sabe, durante meses a fio, denúncias se multiplicaram, evidências saltaram aos olhos às dezenas e provas inquestionáveis abarrotaram os armários dos relatores das CPI´s instauradas. Apesar disso, em um atentado ao senso do ridículo, os advogados desses senhores alegaram, um a um e com a maior cara de pau, a inocência de seus clientes, classificando as denúncias como "ineptas", "imprestáveis", "ridículas", "omissas" e "desprovidas de base fática". Como eles falam bonito!
Qual será a origem desses artistas? Se retrocedermos no tempo, encontraremos um deles, na ocasião, apenas um estudante de teatro, desistindo do curso de artes cênicas e ingressando na faculdade de Direito. Depois de algum tempo, gradua-se e passa na prova da OAB. O talentoso ator torna-se então um advogado. Aluga uma sala em um prédio comercial no centro da cidade, intitula-se “doutor” e manda pintar uma plaqueta com seu nome para ser pregada na porta do escritório. É o orgulho da família e a salvação dos rapazes elegantes de mão ligeira.
Os anos passam e nosso personagem passa a ser renomado. Causas milionárias surgem a todo o momento, e ele passa a ser contratado frequentemente para atuar na defesa de políticos corruptos (os rapazes elegantes de mão ligeira). Ao examinar um caso desses, em que o réu se diz inocente, geralmente lhe restam três alternativas: 1- Desistir imediatamente do caso, deixando o pepino para o Tom Cruise resolver, afinal missão impossível é com ele mesmo. 2- Não buscar a absolvição do réu, mas tentar amenizar ao máximo a pena que certamente será imposta, descolando algum atenuante. 3- Fazer papel de palhaço diante de 180 milhões de pessoas ao afirmar com todas as letras que o réu é inocente, que todos os flagrantes, os grampos telefônicos e as irregularidades são mero produto da nossa imaginação.
Curioso é ver como eles acreditam que, por mais esdrúxulas que sejam suas histórias, sempre irão conseguir convencer as pessoas, bastando apenas que o texto seja declamado em tom de profecia do apocalipse, em uma postura teatral e com enredo de novela mexicana. Isso chega a ser um insulto, uma afronta à inteligência alheia! Se eu fosse advogado, sentiria vergonha ao testemunhar alguém esculhambando e expondo ao ridículo minha classe profissional dessa forma. Será que os colegas da Ordem não se sentem mal com isso?
Alguns julgamentos, devido a carga excessiva de fábulas, acabam tomando a forma de um festival de anedotas. Além dos tribunais, estas também podem ocorrer em outros recintos, tais como pescarias ou mesas de bar. Em algumas cidades, inclusive, organizam-se verdadeiros campeonatos deste tipo, onde os competidores sobem em um palco, contam uma história cabeluda recheada de “fatos” insólitos e ficam aguardando ansiosamente a nota do juiz da competição. Notaram alguma semelhança?
Pela nossa lei, qualquer um tem direito a um advogado, até mesmo um serial killer. Mas qual o papel do advogado de um serial killer? Seria por acaso mostrar ao júri que o estripador está profundamente arrependido de seus crimes e por isso pedir sua absolvição? Afirmar que ele está tentando se reintegrar à sociedade, tendo inclusive sido contratado como recreador infantil em uma creche da vizinhança? Além de patético, forçar a barra desta maneira não parece ser nada ético. Muito mais sensato foi o advogado de brasileiros flagrados recentemente em situação ilegal nos Estados Unidos. Este advogado, ao invés de tentar provar que os clientes foram capturados por marcianos e tele-transportados involuntariamente da Bahia para Las Vegas, simplesmente tratou de tomar todas as ações cabíveis para que a burocracia inerente à deportação fosse superada da forma mais rápida e menos desgastante possível.
Por ouro lado, fico realmente impressionado com a veia artística dos nossos advogados. Penso até em contratar um dos bons. Acontece que ando comendo muita pizza ultimamente. Se eu virar um gordão, tratarei de processar aquela pizzaria vilipendiosa, inepta e imprestável, por produzir pizzas tão deliciosas.
A casa de espetáculos do Supremo Tribunal Federal, em mais uma de suas grandiosas apresentações, abriu recentemente espaço para a peça humorística “Meu cliente é um santo”, estrelada pelos advogados de 40 acusados de corrupção, indiciados durante as apurações do esquema do mensalão. Como todo mundo sabe, durante meses a fio, denúncias se multiplicaram, evidências saltaram aos olhos às dezenas e provas inquestionáveis abarrotaram os armários dos relatores das CPI´s instauradas. Apesar disso, em um atentado ao senso do ridículo, os advogados desses senhores alegaram, um a um e com a maior cara de pau, a inocência de seus clientes, classificando as denúncias como "ineptas", "imprestáveis", "ridículas", "omissas" e "desprovidas de base fática". Como eles falam bonito!
Qual será a origem desses artistas? Se retrocedermos no tempo, encontraremos um deles, na ocasião, apenas um estudante de teatro, desistindo do curso de artes cênicas e ingressando na faculdade de Direito. Depois de algum tempo, gradua-se e passa na prova da OAB. O talentoso ator torna-se então um advogado. Aluga uma sala em um prédio comercial no centro da cidade, intitula-se “doutor” e manda pintar uma plaqueta com seu nome para ser pregada na porta do escritório. É o orgulho da família e a salvação dos rapazes elegantes de mão ligeira.
Os anos passam e nosso personagem passa a ser renomado. Causas milionárias surgem a todo o momento, e ele passa a ser contratado frequentemente para atuar na defesa de políticos corruptos (os rapazes elegantes de mão ligeira). Ao examinar um caso desses, em que o réu se diz inocente, geralmente lhe restam três alternativas: 1- Desistir imediatamente do caso, deixando o pepino para o Tom Cruise resolver, afinal missão impossível é com ele mesmo. 2- Não buscar a absolvição do réu, mas tentar amenizar ao máximo a pena que certamente será imposta, descolando algum atenuante. 3- Fazer papel de palhaço diante de 180 milhões de pessoas ao afirmar com todas as letras que o réu é inocente, que todos os flagrantes, os grampos telefônicos e as irregularidades são mero produto da nossa imaginação.
Curioso é ver como eles acreditam que, por mais esdrúxulas que sejam suas histórias, sempre irão conseguir convencer as pessoas, bastando apenas que o texto seja declamado em tom de profecia do apocalipse, em uma postura teatral e com enredo de novela mexicana. Isso chega a ser um insulto, uma afronta à inteligência alheia! Se eu fosse advogado, sentiria vergonha ao testemunhar alguém esculhambando e expondo ao ridículo minha classe profissional dessa forma. Será que os colegas da Ordem não se sentem mal com isso?
Alguns julgamentos, devido a carga excessiva de fábulas, acabam tomando a forma de um festival de anedotas. Além dos tribunais, estas também podem ocorrer em outros recintos, tais como pescarias ou mesas de bar. Em algumas cidades, inclusive, organizam-se verdadeiros campeonatos deste tipo, onde os competidores sobem em um palco, contam uma história cabeluda recheada de “fatos” insólitos e ficam aguardando ansiosamente a nota do juiz da competição. Notaram alguma semelhança?
Pela nossa lei, qualquer um tem direito a um advogado, até mesmo um serial killer. Mas qual o papel do advogado de um serial killer? Seria por acaso mostrar ao júri que o estripador está profundamente arrependido de seus crimes e por isso pedir sua absolvição? Afirmar que ele está tentando se reintegrar à sociedade, tendo inclusive sido contratado como recreador infantil em uma creche da vizinhança? Além de patético, forçar a barra desta maneira não parece ser nada ético. Muito mais sensato foi o advogado de brasileiros flagrados recentemente em situação ilegal nos Estados Unidos. Este advogado, ao invés de tentar provar que os clientes foram capturados por marcianos e tele-transportados involuntariamente da Bahia para Las Vegas, simplesmente tratou de tomar todas as ações cabíveis para que a burocracia inerente à deportação fosse superada da forma mais rápida e menos desgastante possível.
Por ouro lado, fico realmente impressionado com a veia artística dos nossos advogados. Penso até em contratar um dos bons. Acontece que ando comendo muita pizza ultimamente. Se eu virar um gordão, tratarei de processar aquela pizzaria vilipendiosa, inepta e imprestável, por produzir pizzas tão deliciosas.
Um comentário:
Uma grande diferença entre um engenheiro e um advogado é que o engenheiro trabalha com fatos. Um prédio ou uma ponte não vão ficar de pé com base em pressupostos.
Já um advogado trabalha com ficções. O importante não são os fatos, mas a versão que ele cria.
O "bom" advogado é o que consegue convencer as pessoas de que seu cliente não é tão mau quanto parece (e danem-se as evidências).
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