05 maio 2007

Rock nos tempos da fita cassete

Os não simpatizantes que me perdoem, mas hoje vou falar sobre Rock and Roll. Não exatamente uma ênfase histórica, ou alguma explanação sobre estilos e influências, até porque não tenho cacife suficiente para isso. Vou me deter ao assunto que domino, que é como iniciei nesse ramo, em uma época em que a internet não passava de protótipo e, consequentemente, todos que desejassem montar um acervo sonoro de respeito, precisavam necessariamente gastar muito dinheiro, ou suar muito camisa.

Muito mais que uma música tocando em meu CD player enquanto corto a grama ou arrumo o quarto, este brado retumbante que há pelo menos 15 anos ecoa nos meus tímpanos, acabou tornando-se um item de primeira necessidade, companheiro fiel nas horas de lazer ou descanso. Ou alguém duvida que se possa descansar com o Sepultura trovejando no seu ouvido? Dependendo do contexto, lhes digo que é um santo remédio (vide penúltimo parágrafo).

Lembro-me perfeitamente do dia em que aprendi a andar de bicicleta, mas não consigo lembrar como me contagiei com esse som. Tenho alguns flashes na memória do Robson moleque, gravando coletâneas e mais coletâneas de músicas em fitas cassete, lados A e B, limitados a 60 minutos por unidade. Eram horas a fio com o rádio ligado, de plantão sobre o botão REC, que era freneticamente acionado quando eu ouvia, em meio aos comentários do radialista, os primeiros riffs de uma guitarra que me agradasse. Outro recurso bastante explorado era a gravação indireta a partir da TV ou de outro toca-fitas, captando o som a partir de um microfone colocado no auto-falante do aparelho. Obviamente ficava uma porcaria, mas eu não era muito exigente naquela época. Diante desse cenário, meu sonho de consumo passava a ser um gravador de duplo deck, que permitiria copiar as fitas dos colegas sem sonoplastias anexadas ao fundo, tais como barulho de carro, cachorro latindo ou minha mãe me chamando para almoçar.

Naquele tempo eu era limitado não apenas no equipamento, mas também no repertório. Contava basicamente com uma coleção em vinil de Beatles, nossa herança de família, e algumas fitas de conjuntos nacionais copiadas de amigos, como Ultraje a Rigor ou Engenheiros do Hawaii, na época recém saídos do cenário de Porto Alegre, com a novíssima O Papa é Pop. Esse cassete, que pedi como presente de natal em algum momento do início da década de 90, foi meu primeiro álbum original, passando a ganhar um local de destaque junto com as fitas gravadas a partir das rádios.

Apesar das limitações impostas pela época, o interesse pela música era grande. Várias horas eram gastas na tarefa periódica de limpeza dos cabeçotes dos toca-fitas com cotonetes embebidos em álcool. Na falta do álcool eu usava o desodorante “Avanço” , aquele anunciado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias no programa dos Trapalhões – “Avanço, você usa e a mulherada avança”. Alguém se lembra? Era também necessário, pelo menos uma vez por mês, avançar e rebobinar todas as fitas, colocando-as em movimento para que não mofassem. De uma forma ou de outra, o contato com a música era constante.

Os anos passaram e meus equipamentos sofreram um upgrade. Antes da era MP3, cheguei a montar um pequeno acervo, composto por CD´s de Rock e Heavy Metal, hoje praticamente transformados em artigo de coleção. Estão todos lá, com seus belos encartes, marca característica das bandas deste estilo musical. Esta é outra curiosidade. Ao invés da foto dos integrantes do grupo, as capas dos CD´s de Rock quase sempre mostram belos desenhos, alguns verdadeiras obras de arte. Por outro lado, em encartes de certos estilos, dificilmente vemos algo além da fuça do cantor, seu sorriso amarelo e sua pose de ator mexicano.

Hoje tenho coisas melhores que toca-fitas e cassetes embolorados. Os riff´s do Black Sabbath e os solos do Led Zeppelin ecoam mais felizes e saudáveis, importunando meus colegas de casa com o a imponência que lhes é devida. Só mesmo os amantes do bom e velho Rock and Roll para conhecerem o efeito alucinógeno de uma carga de decibéis no ouvido. Sua substância ativa é capaz de eliminar os efeitos nocivos da exposição contínua à “sonoridades com as quais não demonstro simpatia”, ocorrida em alguma festa de confraternização ou churrasco de domingo. Para este mal, só existe um remédio: chegar em casa e esmerilhar um AC/DC ou Iron Maiden, ótimos anti-depressivos de tarja branca.

Que o bom e velho Rock and Roll possa sempre se renovar, mas que não perca sua identidade. Que venha a gurizada com sangue novo e suas guitarras nervosas, mas que os velhos mestres não se calem em nossas vitrolas empoeiradas.

3 comentários:

Carol K. disse...

Oi Blz?
Vc mora em Porto Alegre e estuda em São Léo, neh?
Pois então...em julho tô indo pra Porto Alegre...o que tem de bom nessa cidade pra visitar, bares, restaurantes, festas....
Vlw
Akemi

Robson disse...

Cara, não sou a melhor pessoa para te dar conselhos, infelizmente conheço muito pouco de Porto Alegre. Mas te garanto que com o mínimo de esforço você vai encontrar muita coisa boa
Abraço

Anônimo disse...

Já estive em S.Leopoldo por volta de 1978, durante um serviço na siderúrgica Gerdau. Não me lembro de grandes coisas, já que chegava à noite para dormir e saía cedo para trabalhar.

Quanto às fitas K7, eu usava um gravador de rolo (rolo pequeno, não os grandes da Akai). O rádio era AM, a válvula, e o alto-falante, na ponta de um fio comprido, ficava numa caixa de sapato junto com o microfone, no fundo de um armário, para não pegar ruído ambiente.

Ainda tenho as fitas, com muita coisa boa, mas o gravador se foi há séculos.

E o que tocava num rádio AM, na década de 60/70? Apenas Beatles e Rolling Stones, nas rádio comuns, mas coisas incríveis na rádio JB, num programa chamado "Música Contemporânea", todas as tardes.

Muitas dessas coisas eu comprei depois em LP ou CD. Outras sumiram e só existem nas fitas.

Atualização: aos finais de semana
powered by eu mesmo ®