13 maio 2007

Diplomaticamente falando

Assistindo ao noticiário que mostrava a recepção do presidente Lula ao Papa Bento XVI, fiquei com uma certa impressão que o companheiro não estava muito à vontade. Acabei associando a cena àquela situação, onde o namorado, muito à contra-gosto, se vê obrigado à fazer sala para a família da sogra. Além de fazer sala, nosso presidente ainda se vê obrigado a providenciar um discursinho politicamente correto, para que seja lido diante do Pontífice e das câmeras. Textinho chulé, fraquinho na verdade, onde ficou evidente que o Lula estava ali meramente cumprindo tabela.

E não tinha como ser diferente. Como sabemos, sempre se espera que o presidente da república dê seu pitaco em tudo, desde a crise financeira até o novo penteado do Evo Morales. Portanto, por via de regra, alguma coisa invariavelmente será dita, mesmo que o discurso acabe ficando com cara de “papo político só para constar”, mais conhecido nas casas do ramo como “recheio de lingüiça”. O repertório já é manjado: joga-se um charme, elogia-se bastante a autoridade, ressalta-se tudo de bom que ele tem feito pela humanidade, deixa-se de lado as divergências que certamente são ditas ou ao menos formuladas quando ele está a milhares de quilômetros de distância. Bajulações, promessas, tapinhas nas costas, sorrisos para os fotógrafos...

Ser diplomático, ser político, isso não deixa de ser necessário as vezes. Mas cabe o cuidado para que não se force a barra além do que a barra agüenta. Dos tempos da Grécia antiga, quando o filósofo grego Aristóteles produziu sua obra Política, até os dias de hoje, há de se convir que alguns conceitos acabaram mudando, ou melhor, se distorcendo e tomando novas vertentes. Valores e conceitos antigos sofreram verdadeiras mutações, que acabaram dando origem à politicagem, o filho feio da Política de Aristóteles

Esse papo de política e Grécia antiga está meio nebuloso? Então veja um exemplo: Em uma empresa fictícia, um gerente qualquer depara-se com uma tragédia: na sua sala, um vaso de samambaia muito mal posicionado está obstruindo a vista da janela panorâmica em frente à mesa. E não é só isso! A pobre plantinha está posicionada diretamente abaixo da saída do ar condicionado. Isso não pode ser bom para ela, vai que a coitadinha resseca ou adoece, com todos aqueles ácaros... Imediatamente, ele telefona para o chefe da manutenção e relata o ocorrido. O chefe da manutenção, que aliás, virou chefe depois de aprender as artimanhas da politicagem, solicita que dois de seus colaboradores (eufemismo para peão) parem imediatamente o que estejam fazendo para irem movimentar o vasinho de samambaia do gerentão. O encarregado, com sua equipe, suado e atordoado lá no chão de fábrica a 45ºC, tentando bravamente solucionar a pane de uma máquina no meio de outras tantas zunindo nos ouvidos, ao tomar conhecimento da natureza da nobre missão, prontamente responde à mensagem: “Mande aquele corno barrigudo levantar a bunda da cadeira e ajeitar ele mesmo a porcaria da planta. Não posso me dar ao luxo de interromper a manutenção deste equipamento, algo realmente importante para atender aos caprichos daquele velho mimado”. Diante de tamanha veemência, o chefe da manutenção repassa ao gerente o recado do encarregado: Caro senhor, no momento nossa equipe está totalmente empenhada no atendimento à uma emergência operacional na linha de produção. Tão logo possível, estaremos tomando todas as ações necessárias para a solução do seu problema.

Da mesma forma, agem aqueles que estão à frente de grandes empreendimentos, já que, normalmente, são os procurados para darem explicações por conta de alguma cagada operacional, mesmo que não tenham a menor idéia do porquê dela ter ocorrido. Nessas horas, nada melhor do que se limitar a dizer o que estão querendo ouvir. E o que se quer ouvir? Nada mais que as explicações de sempre, os curingas da arte da embromação, ou como são mais conhecidos em nosso meio, o discurso político.

Não vamos medir esforços... Não vamos tolerar...Vamos tomar todas as medidas... Vamos apurar as causas.... Vamos apurar responsabilidades... Vamos... Vamos... Vamos dar o fora daqui!

2 comentários:

Anônimo disse...

É cada vez dia masi me surpriendo c/vc!!!!
Mto conteúdo nessa cabecinha!

Anônimo disse...

Olá, RObson!
COmo já havia falado, são muitos bons os seus textos, incluindo esse.
Falow

Atualização: aos finais de semana
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