30 março 2007

Aprecie sem moderação!

Vamos fazer um brinde. Brindemos ao dom da vida e à todos os privilégios dos viventes. Ainda que alguns se queixem, outros o desperdicem e outros sejam mesmo capazes de renunciá-lo, não há como negar que somos verdadeiros contemplados pelo recebimento deste dom, cabendo a nós fazer bom uso dele, independente dos percalços que eventualmente cruzem nosso caminho.

Lembro de um professor de inglês que tive no ensino médio, homem de meia idade, negro, franzino, sempre muito elegante em seu terno que o fazia destoar dos demais professores da Escola Técnica Federal de Santa Catarina. Este mestre, hoje poliglota, professor requisitado e homem de sucesso, nasceu e cresceu na miséria, passou fome e penou muito até conseguir seu lugar ao sol. Sua infância pobre, ao invés de alimentar as estatísticas sobre desigualdades sociais causadoras da violência urbana, serviu como força motriz para sua batalha rumo ao conhecimento, bem precioso, capaz de libertar qualquer detentor das garras da opressão. Hoje ele pode ser considerado um vencedor. Um professor, um educador pleno. Sua lição de vida contribui infinitamente para a formação do caráter dos agraciados com um semestre sob sua orientação.

“Aprecie com moderação”, nos diz o anúncio da cerveja. Bebida certamente apreciada e por demais consumida, tanto que fez com que à sua propaganda fosse vinculada esta advertência, na tentativa de convencer o público alvo a moderar o consumo do produto. Mas outras fontes, ao contrário desta, não ostentam nenhuma advertência, e se o fizessem, poderiam ser justamente o incentivo às altas doses. Aprecie sem moderação. Busque, beba desta fonte, mergulhe de corpo inteiro e saia gotejando, emanando por todos os poros o conteúdo absorvido. Mas que fontes são essas? Já que seus excessos são benéficos, nada mais justo do que conhecer alguns exemplos.

A primeira da lista é justamente a fonte do conhecimento (na verdade, a primeira é uma outra, mas vou considerá-la sub-entendida para evitar possíveis chiliques e ataques de ceticismo). Essa certamente mereceria um estímulo à overdose. Como já foi citado, se o conhecimento não move montanhas, pelo menos move o cidadão da favela ao condomínio de luxo. Se a semente do conhecimento tiver ainda a sorte de ser plantada em um cérebro fertilizado pela inteligência, está carregada e engatilhada a arma mais poderosa que uma nação pode possuir. Osama Bin Laden que o diga, deve sua liberdade à carência destes ingredientes na cachola de seus inimigos.

Passemos à uma segunda, a cultura. O que aconteceria se nos esbaldássemos livremente nessa fonte? Se demonstrássemos interesse pelo ser humano e todas as riquezas produzidas pelas civilizações ao longo de seus mais de 5000 anos de história? Isso tudo, aliado ao discernimento que nos possibilita diferenciar a bagagem do entulho, nos colocaria à disposição uma fonte riquíssima, para que dela nos servíssemos livremente, até o ponto de embriaguez - felicidade e euforia, exatamente como deve sentir-se o viciado ao cheirar sua inestimável carreira de pó.

E o que dizer da natureza, fonte inesgotável (pelo menos costumava ser) de beleza e inspiração, meio transmissor de boas energias, apaziguadora dos gênios mais conturbados e exaltados. Quem duvidar, pode, por exemplo, experimentar viajar sozinho, isolar-se do mundo por alguns dias, subir ao topo de um morro e dali contemplar o vazio de um canyon de 600 metros de altura, preenchido pelo verde da mata e pelo som do vento golpeando suas paredes de pedra.

Procuremos consumir um pouco mais destas e de outras fontes. Podem ser encontradas nas melhores casas do ramo. São fáceis de achar e não são caras.

Então, o que estamos esperando? Um brinde!!!

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa que foto linda Robson!!!!!!

Anônimo disse...

Robson, pra variar achei seu texto maravilhoso!!!!! Parabén por sua sensibilidade e visão de futuro!

Unknown disse...

Texto perfeito, mais uma vez!E gostei da foto também!

Agora sempre vou passar aqui, me faz bem ler o que tu escreves.

Beijo.

Anônimo disse...

testando...

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