Só para nos situarmos: Em 2005, todos lembram, tivemos no Brasil um referendo questionando a opinião popular sobre a proibição do comércio de armas, artigo previsto no estatuto do desarmamento. Na ocasião, após acalorados debates sustentados por ambos os pontos de vista, acabou vencendo a proposta que ia contra a proibição do comércio de armas de fogo e munição no país.
Pois bem, não há motivos para retomar os mesmos argumentos tão surrados durante as campanhas do referendo, mas, por uma razão ou outra, certas idéias andaram pipocando na minha cabeça ao longo desta semana. É prudente andar armado? É uma decisão acertada? Encarando a questão sob diferentes pontos de vista, vamos nos colocar na pele de três personagens:
Situação 1: “Batalhei a vida toda, suei a camisa e, com muito esforço, conquistei meu patrimônio e formei uma bela família. Por uma dessas infelicidades da vida, acabei vindo morar neste antro de bandidagem. Quais as minhas opções? Ficar na mão dos marginais até que resolvam assaltar a minha casa e ameaçar a minha família? Depois de uma vida inteira de esforços, entregar de mão beijada meus bens para um mané capaz de matar alguém por um punhado de reais? Não mesmo! Vou carregar uma arma comigo, sou uma pessoa equilibrada e me considero apto para tal, mas se alguém vier me ameaçar eu passo fogo.”
Situação 2: “Tem muita gente andando armada por aí, meu colega. E se achando o gostoso por conta disso. Outro dia me disseram “Ei, cuidado com aquele sujeito, o cara anda armado, impõe respeito, não se meta com ele mermão.” Impõe respeito? Opa, espera aí colega. Quer dizer que ele impõe respeito porque carrega um ferro? E eu não consigo me fazer respeitar apenas porque ando de mãos abanando? Não seja por isso. Vou agora mesmo à loja de artigos de caça e resolvo esse problema. Serei também digno de respeito, um cara para quem as pessoas abaixarão a cabeça quando dirigirem a palavra, um cara que... Um momento! Desse jeito qualquer um que se sentir desrespeitado vai querer comprar a sua arma, e impor respeito deixará de ser uma exclusividade minha! Ah, assim a coisa perde toda a graça!”
Situação 3: “Aqui na minha cidade, a população já vive plenamente a cultura do armamento, praticamente todos estão, de fato, armados. Os desarmados são meras exceções. No meio deste faroeste, eu até pouco tempo atrás nunca tinha pensado em ter uma arma, mas me senti obrigado a comprar uma porque, afinal de contas, todos à minha volta têm a sua e eu não quero ser o único trouxa vulnerável dessa história. Afinal de contas, sou bem grandinho, tenho a cabeça no lugar e considero-me em plenas condições de ter uma arma, que usaria exclusivamente para defender meus entes queridos, não sairia com ela por aí como um adolescente ostentando um troféu.”
Considerando estes três argumentos me surge a pergunta: estariam estas pessoas mais protegidas por terem uma arma? Será que criminosos deixariam de assaltar se soubessem que todos sem exceção andam armados? Alguém já pensou que, em uma situação dessas, a única mudança talvez fosse na técnica de abordagem? O famoso clichê “passa a grana senão te mato” seria substituído por uns cinco tiros preventivos na vítima, evitando que ela tenha a chance de sacar a arma que o marginal sabe que está lá. Valeria a política do “fuzilar primeiro e perguntar depois”.
Armas, alguém realmente precisa delas? Se alguém é contra a matança de bois e galinhas, não deveria consumir o produto desta ação, mesmo sendo amante de um bom churrasco. Da mesma forma, quem não quer ver uma população armada, não deveria possuir a sua, mesmo não conseguindo condenar um pai de família por querer defender sua casa, ou uma mãe por exterminar os assaltantes que tentavam levar o carro com o filho dentro, ou ainda, mesmo sabendo que, com ou sem proibição, a bandidagem sempre arranja maneiras de se armar.
Enfim, não deixa de ter razão quem anda armado. Mas tampouco está errado quem se recusa a incluí-la na sua cesta básica. Quem opta por não portar armas, antes de ser um alvo fácil, é alguém que deseja com todas as forças a erradicação dessa cultura. Sua atitude isolada não muda coisa alguma, mas lhe dá o direito de maldizer uma bala que partiu de uma briga de trânsito e alvejou um inocente.
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