02 junho 2007

Estudantes negros têm direito a cotas nas universidades? (parte2)

Bem, vamos voltar ao nosso bom samaritano. Eis que um belo dia ele pensou: “Vou criar uma cota especial nas universidades públicas, para garantirmos uma certa porcentagem de estudantes negros na faculdade. Assim, vamos dar a eles mais chances de chegarem a algum lugar. E mais, vamos dar essa chance desde já, e não apenas daqui a quinze gerações quando, quem sabe, por algum milagre ou outro motivo de força maior, alguma coisa seja reformulada no sistema brasileiro de educação”. Como todo protótipo, este projeto também veio com alguns defeitos de fabricação. Baseado apenas no critério da auto afirmação, qualquer playboy albino que descobrisse que seu tataravô tinha sido moreninho, podia auto intitular-se afro-descendente. O candidato mandava fotos para uma comissão que julgava se o pretendente era negro o suficiente. Convenhamos, acabou virando esculhambação. Já o novo release do projeto corrigiu parcialmente esta falha, requisitando a comprovação da carência financeira.

Outro defeito, no entanto, ainda estava evidente. A criação das cotas acabou dando margem à insinuações venenosas, que insistentemente pairavam no ar. Elas traziam a idéia de que o negro só conseguiria passar em um vestibular se competisse com outro negro. Confesso que houve momentos em que fui totalmente contra a instituição dessas cotas raciais, justamente por causa do argumento apresentado acima. Realmente, se o princípio de tudo é a igualdade, exatamente como define a constituição brasileira, por que então incutir nos estudantes esse espírito de segregação? Não seria uma espécie de apartheid? As vezes alguns tiros podem sair pela culatra.

No entanto, independente de opiniões contra ou a favor desta lei, a maioria há de convir comigo que nos agrada muito mais acompanhar os parlamentares discutindo questões desta natureza, ao invés de assistir aos festivais de tapinhas nas costas na maratona do toma-lá-dá-cá. Que bom ver que, apesar de tudo, ainda sobra um tempinho para atenderem o povão lá fora. Esse é o caso do projeto de cotas, criado a poucos anos e já adotado em várias universidades públicas brasileiras. Na minha opinião faltam ajustes, é claro, mas os primeiros passos estão sendo dados. Quem sabe se fossem privilegiados os estudantes carentes, independente de cor, provenientes de escolas públicas? Acredito até que já estejam fazendo isso, não é tão difícil assim encontrar soluções, basta que haja interesse, (não confundir com interesse político, aquela palavrinha nojenta).

Nobres homens e suas idéias – inovadoras ou nem tanto, vocês merecem os parabéns por pelo menos estarem agindo, tomando alguma atitude em direção ao que acreditam ser a solução para um dos milhares de problemas que assolam nosso Brasil, ao invés de apenas criarem barriga, praticando o conformismo e a passividade.

Em uma pequena aldeia chamada Brasília, os habitantes começam a sucumbir, pois a água daquele povoado está acabando. Todos sabem que a muitos metros de profundidade existe um enorme lençol freático e que a salvação está na escavação de um poço, mas ninguém se coça para começar a cavar. Se alguém eventualmente levanta, pega uma pá e começa a cavoucar o terreno, os outros ficam assistindo, sentados à sombra, afirmando que não irá funcionar, que a operação levará muito tempo, que a terra vai desmoronar. E continuam ali sentados, chorando as pitangas por não terem um poço que lhes mate a sede .

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá,
vejo que seu texto vem com o função/propósito de informar o leitor sob uma perspectiva não só descritiva, mas também de avaliação - é isso? e ele cumpre com o prometido, então é valido para mim
eu apostaria em um texto mais enxuto - talvez seja seu pecado, entende?
menos é mais

Comentários Cenas do Cotidiano disse...

Brasília realmente tem demonstrado ter comportamentos primitivos de uma pequena aldeia, mas contudo nem todos aqui, ficam esperando que a água seja escavada por outros, eles mesmos arregaçam as mangas e constroem com honestidade e luta outras histórias que infelizmente não estão na mídia, mas que existem, pode crer!!!
Parabéns mais uma vez, ótimo artigo!!

Anônimo disse...

Ola,
Essa questão das cotas é muito complexa, um ponto que me chama a atenção é o fato de que, esse é um projeto do governo que sai muito barato, o problema maior seria eles se acomodarem, deixando as escolas do ensino médio na situação em que estão, abandonadas.
Eu sinceramente prefiro que o governo invista no ensino médio, e aumente o número de faculdades, para que todos brancos, pardos e negros, pois no Brasil existe pobres de todas as cores, tenham chaces iguais de entrar na faculdade.

Atualização: aos finais de semana
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