09 junho 2007

Estudantes negros têm direito a cotas nas universidades? (parte 1)

Volta e meia esse assunto vem à tona. Lei polêmica essa, hein? Qual será a razão para as divergências e, principalmente, quais os motivos para a criação destas cotas? Estaremos combatendo o problema ou apenas camuflando?

Ao que tudo indica, a lei das cotas foi uma forma encontrada para compensar os afro-descendentes pelas exclusões sociais, enraizadas ainda na época da escravidão, quando se plantou a idéia de que os negros eram seres inferiores. Por incrível que pareça, ela até hoje mostra seus reflexos. No final do século 19, quando a escravidão foi abolida, os ex-escravos continuaram de certa forma escravizados, já que a simples condição de homens livres não melhorava em nada sua imagem perante a sociedade da época. Surgia ali um fator que vem até hoje deixando suas marcas, através de estatísticas que mostram que, dentre os miseráveis no Brasil, 70% é de origem negra.

Pois bem, algum bom samaritano sentiu-se incomodado com isso e tratou de pensar em uma forma de acabar com a injustiça. Mas de que jeito? Como arrancar esse conceito burro da cabeça da população? Uma reforma geral no mundo e na mente dos homens? Utópico demais, além disso, levaria muito tempo, algo bem próximo à eternidade. Sem disposição para esperar até quase o dia do juízo final para ver seus ideais se realizando, esse bom samaritano acabou bolando o sistema de cotas para afro-descendentes em universidades públicas, um paliativo que começasse a apresentar resultados a curto e médio prazo, enquanto não se reformula totalmente o ensino público de base, todos sabemos, a solução real e definitiva do problema.

Afinal, o que falta para que se mude de vez essa concepção arcaica, e algumas vezes até “inconsciente” em relação aos negros? Pois só vai começar a mudar quando tivermos alcançado uma equiparação de condições sócio-econômicas entre negros e brancos. E como alcançar a equiparação, ou pelo menos começar a caminhar nessa direção? Pois será alcançada se forem oferecidas as devidas oportunidades, mais especificamente, condições de acesso e permanência ao ensino de qualidade. A partir daí, quem realmente quiser alçar vôo e se dispor a lutar, vai estar em condições de caminhar com as próprias pernas, em direção à quebra dos paradigmas.

Na vida real, o que vemos é um círculo vicioso guiando a história dos brasileiros desfavorecidos. Nascem em famílias pobres e crescem sem condições de estudarem em um bom colégio, já que bom colégio é sinônimo de bom prejuízo. Estudam a vida toda (quando estudam) em escolinhas municipais sucateadas, comendo uma gororoba insólita oferecida na merenda. Passarão em algum vestibular de universidade pública? Tirando algumas exceções de bravos vencedores, a resposta é um sonoro e vibrante não. Não passam nos vestibulares, não conseguem bons empregos, não ganham dinheiro. Vivendo nestas condições, acabam transmitindo uma idéia de inferioridade, sendo contratados para trabalharem como mão de obra barata em sub-empregos. O desfecho é um tanto óbvio. O rapaz conhece uma companheira em situação semelhante. Juntos, e sem dinheiro para comprarem uma televisão, produzem meia dúzia de filhos, meia dúzia que nascem de mais uma família pobre.

E assim se reinicia o ciclo.

(continua semana que vem...)

Um comentário:

Unknown disse...

Oii! Tempão que nao deixo um comentário, e mais tempo ainda que nao falo contigo, nem te vejo pela Unisinos. Pelo menos me lembro de passar aqui e ler os teus textos maravilhosos. Adoro! E sempre digo: A-DO-RO!
Parabéns.
Manda notícias, nem que seja pelo orkut.

Beijo.

Atualização: aos finais de semana
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